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Presidente da Abrafarma não convence CPI



O presidente da Associação Brasileira das Redes de Farmácia (Abrafarma) Aparecido Bueno de Camargo, confirmou ontem, na CPI dos Medicamentos, a existência dos remédios “B.O.” (bons para otário), que significaria sem efeito ou mais caro, sem, no entanto, identificar quais seriam estes produtos, contrariando o compromisso assumido em sua participação anterior na comissão.

Em vez da lista dos “bons para otário”, o empresário entregou um rol dos medicamentos recentemente proibidos pela Vigilância Sanitária, publicado no Diário Oficial, o que provocou indignação de vários parlamentares. Robson Tuma (PFL-SP), que inquiriu o depoente sobre supostas ligações de sua rede no Paraná, a Drogamed, com laboratórios clandestinos – suspeita levantada por Iris Simões (PTB-PR), que motivou a nova convocação – afirmou que fará requerimento pedindo à CPI que processasse o empresário por falso testemunho.

Assessorado por um advogado, Camargo leu um texto previamente preparado, no qual alegou ter sido “infeliz e mal interpretado”, ao utilizar a expressão “BO” no primeiro depoimento, atribuindo à sua “falta de experiência” em CPIs a inconveniência. Ele assegurou que não quis ofender “os dignos deputados nem o povo brasileiro” e deu duas explicações para a expressão. Numa, BO significaria “medicamento bonificado”, e se refere àqueles “adquiridos da indústria em condições comerciais mais favoráveis”; na outra, admite que a expressão tem a conotação de “bom para otário” no jargão dos balconistas de farmácia. “Mas não é minha nem é nova”, completou, citando que se trata do título de um capítulo do livro Farmáfia - Falcatruas nos balcões de farmácias, em que o autor, Silva Luiz, revela os bastidores das farmácias em que trabalhou. Camargo afirmou que a diferença entre os remédios “BO” e “porcarias” – que seriam sem efeito – e os “bonificados” é que estes seriam apenas mais vantajosos para as farmácias, que assim praticam a “empurroterapia”.

A explicação não convenceu os deputados. Salatiel Carvalho (PMDB-PE) desmontou o “argumento frágil” do depoente, ao citar trecho do livro admitindo que BO e “bonificados” são a mesma coisa. “O sr. também vende BO, porque tem 35 anos de experiência no ramo e ao longo deles já fez muito brasileiro de otário”, acusou o deputado, para quem “o grande serviço” da CPI, daqui para a frente, é listar “os remédios que não servem para nada”. Carvalho considerou “grave” que entre os BO encontrem-se antiinflamatórios e anti-hipertensivos, como o Metildopa, e que estes produtos tenham registro na Vigilância Sanitária.

Questionado pelo relator da comissão, Ney Lopes (PFL-RN), e pelo deputado Robson Tuma acerca do surgimento do nome da Drogamed nos livros do laboratório clandestino Sidome, de Uberlândia, Camargo negou. Mas admitiu ter comprado um produto do laboratório mineiro, por meio da distribuidora Costapark – o creme para celulite italiano Dermative 10.

“A Costapark é a principal distribuidora de falsificados de Uberlândia, usada para vender produtos dos laboratórios Quimioterápio e Sidome”, disse Tuma, revelando que o avalista da casa onde está a Costapark, que tem sede no Uruguai, é o dono dos laboratórios falsificadores. “E o senhor vendeu este produto depois que o Ministério da Saúde fechou os laboratórios e os interditou”, acusou. “Todas as 30 mil farmácias do Brasil trabalham com este creme”, defendeu-se o empresário. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PPB-SP) identificou irregularidades no produto, como as embalagens desiguais e a assinatura de dois farmacêuticos responsáveis diferentes. Tuma assinalou que o creme era “um produto danoso”, que poderia causar até “câncer de pele”. “O senhor não está dizendo a verdade. A nota da sua rede sobre este produto diz: ‘Natureza da operação: boniificação’”, apontou Robson Tuma.

Lucros

Tuma também acusou o empresário de revelar números falsos no que se refere à margem de lucros das farmácias, que seria de 2%, segundo Camargo. Robson Tuma apresentou uma nota fiscal na qual comprou na Drogamed o medicamento Tetraclixiclina – comercializado sob prescrição, mas que fora vendido a um menor de idade sem receita – por R$ 5,50 a embalagem com dois comprimidos, enquanto o deputado apurou que as farmácias o adquirem a R$0,26 a unidade.

Diante deste baixo percentual de lucro declarado por Camargo, Arlindo Chinaglia (PT-SP) estranhou o crescimento do empresário no setor, que – garantindo não trabalhar com BO, nem sem nota fiscal – comprou sua primeira farmácia em 1979 e hoje dispõe de uma rede de 74 lojas. Darcísio Perondi (PMDB-RS) foi outro parlamentar que não se convenceu dos argumentos de Camargo. Em entrevista à imprensa, Perondi afirmou que o depoimento “não acrescentou nada” à CPI. “Estamos trabalhando com um pequeno. A coisa toda é bem maior”, avaliou.



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