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Uma doença silenciosa A diabete gestacional é de difícil 22 SAÚDE Durante os nove meses da gestação, o corpo da mulher transforma-se por completo. As mudanças, em tese, acontecem para que haja bemestar para o bebê que está para chegar. Ocorre que essas transformações são também condições propícias para alguns distúrbios. É o caso da diabete, que em gestantes surge de forma silenciosa, trazendo sérios riscos para mãe e bebê quando não controlada. A diabete gestacional surge porque, conforme as semanas de gravidez avançam, a placenta cresce e produz hormônios que podem bloquear parcialmente a ação da insulina, substância responsável pelo transporte do açúcar do sangue para dentro das células. Na maioria das mulheres, o pâncreas reage a essa situação liberando mais insulina para superar essa resistência. Em mulheres com quadro de diabete gestacional é como se a glândula não processasse adequadamente o excedente de glicose que está na circulação. “Mesmo quem nunca teve problema de diabete antes, pode vir a apresentar na gravidez taxas de açúcar além do normal, por conta de alguns fatores de risco”, afirma o ginecologista e obstetra Alfonso Massaguer, membro da Federação Brasileira da Associação de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e especialista em reprodução humana. São diversas as interferências que níveis elevados de insulina causam diretamente no desenvolvimento do feto. Parte do açúcar da mãe vai para o bebê. Essas doses extras de glicose sobrecarregam o pâncreas da criança que também começa a produzir mais insulina, que tem a função de processar o açúcar do sangue e é um hormônio anabólico, ou seja, promove o crescimento. As chances de desenvolvimento de bebês enormes (macrossomia fetal), com peso acima da média de 4 quilos, se eleva. O aumento das quantidades de açúcar no sangue da gestante faz também com que o bebê produza mais urina, aumentando a quantidade de líquido amniótico. Tudo isso contribui diretamente para um parto mais complicado, risco de prematuridade, problemas respiratórios para o bebê, maior chance de hipoglicemia (diminuição no nível de glicose no sangue) nos primeiros dias e desenvolvimento de diabete na vida adulta, além do risco de má formação e óbito em casos extremos. “Infelizmente, na imensa maioria das vezes, essa condição diagnóstico e traz sérios riscos tanto para a mãe quanto ao bebê, como nascimento prematuro e, em casos mais graves, resulta em óbito passa como uma doença silenciosa. As mães só descobrem o quadro quando o bebê já está com muito peso, quando há a presença elevada de líquido amniótico e, até, só depois do nascimento, quando os problemas pulmonares da criança aparecem”, observa Massaguer. Os efeitos tradicionais da doença são facilmente confundidos com sensações bem familiares vividas pelas gestantes, como fadiga, apetite elevado e aumento da frequência de idas ao banheiro. Entre os fatores de risco para a doença estão gravidez após os 35 anos, gestações múltiplas, obesidade, histórico familiar de diabete tipo 2 desenvolvida na fase adulta, diabete gestacional em gravidez anterior, aumento exagerado de peso após engravidar. A síndrome do ovário policístico (SOP) também é fator de risco. Para descobrir a doença, é importante a gestante ser acompanhada por um ginecologista logo após descobrir que está grávida. “Um dos investimentos que melhor pode permitir o desenvolvimento saudável do bebê, além de preservar o bem-estar da gestante até a hora do parto é o exame pré-natal”, ressalta. Isso porque exames de glicemia devem ser realizados no início da gestação. Depois, entre a 24 ou 28 semanas de gravidez, a mulher deve se submeter a testes de tolerância oral à glicose. Nesse exame, a grávida bebe uma espécie de concentrado de glicose. Em seguida, de hora em hora, colhese uma amostra de seu sangue para checar quanto tempo o açúcar demora para desaparecer da corrente sanguínea. Uma hora depois de ingerido o líquido, o nível de glicose não deve ultrapassar 180 mg/dl. Duas horas depois, esse valor não deve ultrapassar 155 mg/dl. Após três horas, deve ser menor do que 140 mg/dl. O crescimento acelerado do bebê ou o aumento do líquido amniótico, diagnosticados por meio do ultrassom, também podem indicar a presença do excesso de açúcar no sangue. O tratamento da diabete gestacional se concentra ao longo da gestação, antes, portanto, do nascimento da criança. “A diabete gestacional deve ser controlada individualmente. Dieta e atividade física, se não houver contraindicação, são fundamentais. Algumas pacientes necessitarão de medicação e até de insulina para normalizar sua glicemia”, explica Alfonso Massaguer. O especialista frisa que, “com controle, os efeitos negativos da doença são drasticamente reduzidos ao mesmo tempo em que se promove o bem-estar da mãe e do bebê”. Os procedimentos na hora do parto para mulheres com diabetes gestacional são semelhantes aos adotados em situações normais. A doença, quando controlada, não interfere na escolha entre a cesariana ou parto normal. “Após o nascimento do bebê, os níveis de açúcar costumam se normalizar, já que a causa do problema, a gravidez em si, já não existe. Mas a alimentação saudável e atividade física deverão ser mantidas para sempre, pois mulheres com diabetes gestacional são mais propensas a desenvolverem diabetes do tipo 2 no futuro”, salienta o Massaguer. Caso a mulher deseje novamente ser mãe, a chance da diabete gestacional ressurgir é alta, já que o pâncreas, responsável pela liberação da insulina, já deu sinais anteriormente de que talvez não consiga lidar com o excesso de açúcar no corpo. A única estratégia de prevenção da diabetes gestacional se dá por meio da adoção de uma dieta saudável, aliada à prática regular de alguma atividade física, o que evita o ganho excessivo de peso.


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