Page 28

Jornal416_site.pmd

PRECOCE: Alexandre de Oliveira recebeu o diagnóstico da doença de Parkinson quando tinha apenas 38 anos 28 ESPAÇO CAASP Contra o Mal de Parkinson, o refúgio literário Advogado que sofre da doença conforta-se com a literatura e encontra apoio na Caixa de Assistência dos Advogados “Após uma curta travessia, Ulisses e seus companheiros descobrem uma caverna e ali se instalam. À noite, o dono daquele antro, um ciclope – gigante imenso, com um olho só, bem no meio da testa – retorna. O monstro fecha a entrada com uma pedra enorme e em seguida nota a presença dos gregos. Ele os ataca. Ulisses, furioso, prepara-se para matar o monstro, mas lembra-se de que só ele tem força para afastar a pedra gigantesca que fecha a entrada. Oferece-lhe, então, um vinho trazido do navio, o qual o ciclope esvazia de um só gole. ‘Como se chama?’, pergunta o monstro. Ulisses, esperto, responde: ‘Meu nome é Ninguém’. De tanto beber o ciclope cai no sono. Os gregos enfiam no único olho do gigante um galho de oliveira. O gigante dá um berro. Todos os ciclopes das redondezas acorrem para ver o que aconteceu. ‘Que foi?’, perguntam. ‘Furaram meu olho’, ele responde. ‘Quem fez isso?’, ‘Ninguém! Ninguém é o culpado!’. Os ciclopes entreolham-se, e então se afastam, dizendo que o amigo enlouqueceu.” O advogado Alexandre José de Oliveira, de 41 anos, fez questão de narrar à reportagem o trecho da “Odisseia”, de Homero, seu livro favorito. “Ulisses era um estrategista”, define Alexandre, que desde 2012, quando teve de interromper sua atividade profissional devido a problemas de saúde, encontrou na leitura um refúgio. Alexandre nasceu na cidade de Guaxupé, município do sul de Minas Gerais. É o caçula de uma família de dez irmãos. Veio para São Paulo em 1995. Como muitos, carregava o sonho de uma vida melhor na cidade grande. Em 2003 tornou-se o primeiro da família a conquistar um diploma de curso superior. Formou-se em Direito, pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul, hoje Universidade Municipal de São Caetano do Sul. A Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil veio um ano depois, em 2004, logo após ter passado no Exame de Ordem. Durante anos, atuou na área cível e de família. Também trabalhou na Assistência Judiciária. “O Direito é uma área bem difícil, tem de gostar muito. E eu gosto”, afirma. A carreira, no entanto, foi interrompida pelo diagnóstico de Mal de Parkinson – doença neurológica, crônica e progressiva, sem causa conhecida, que atinge o sistema nervoso central e que compromete os movimentos. “O susto do diagnóstico foi grande”, lembra. Na maioria dos casos, o Parkinson surge partir dos 55-60 anos, tendo sua prevalência aumentada a partir dos 70. Na época em que os sintomas começaram, em 2012, o advogado tinha apenas 38 anos. “Eu cheguei a trabalhar um período após o diagnóstico, mas depois percebi que não dava mais. É uma doença difícil de conviver. Um advogado precisa estar bem com seu emocional e com sua capacidade motora para trabalhar, e ambos ficam comprometidos pela doença”, descreve. A perda da capacidade laborativa levou Alexandre a uma forte depressão, que até hoje o obriga a acompanhamento psicológico. A progressão do Parkinson forçou-o a mudar para a casa da irmã, Benedita. Sem rendimentos, ele recorreu ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Teve seu pedido de benefício negado. Um sobrinho, também advogado, sugeriu que procurasse a Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo, a quem recorreu e foi atendido após entrevistas com assistente social e confirmação de sua incapacidade laborativa e precariedade econômica. Com seu pedido deferido pela CAASP, Alexandre recebe auxílio mensal em dinheiro, cartão alimentação e auxílio-medicamento. “A ajuda da Caixa é muito importante para mim, principalmente em relação aos remédios”, conta, enquanto mostra uma caixa repleta de medicamentos indispensáveis ao seu tratamento. “Eu costumo pegar a maioria no SUS, mas tem mês que falta e o auxílio da CAASP, mais os descontos que a farmácia da entidade oferece, ajudam e tornam a compra mais acessível para mim”, salienta. O dinheiro da Caixa ajuda nas despesas da casa e também no pagamento do convênio médico do advogado. Dentro de suas limitações, Alexandre procura manter se ativo. Quase que diariamente caminha pelo bairro onde mora, além de se manter em boa companhia literária. “A leitura é uma coisa que me faz desligar um pouco”, observa. O último livro que leu foi “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, clássica fábula sobre os regimes totalitários. Ricardo Bastos/CAASP SERVIÇO Plantão de Prerrogativas De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h Após as 18h e finais de semana E-mail: prerrogativas@oabsp.org.br Secional: (11) 3291-8162 / (11) 3291-8167 Fórum Criminal: (11) 3392-5419 Fórum Trabalhista: (11) 3392-4771 / 3392-5029 / (11) 99128-5929 (11) 99128-3207


Jornal416_site.pmd
To see the actual publication please follow the link above