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Paralisia facial LESÃO: A infecção viral ataca o nervo facial, comprimindo os ossos do crânio e, consequentemente, diminuindo sua capacidade de transmitir impulsos nervosos 22 SAÚDE “Era 7 de junho de 2016. Eu estava assistindo televisão quando, de repente, senti meu rosto formigar. Resolvi fazer um chá de pronto-alívio. Quando fui beber, o líquido vazou da minha boca. Achei que estava tendo um derrame, um AVC (acidente vascular cerebral). Fui ao pronto-socorro e o médico disse que não era nada, apenas estresse, que bastava eu descansar e, no dia seguinte, estaria melhor, mas acordei com o lado direito do rosto paralisado”. Este depoimento é do jornalista Rafe Aguiar, de 25 anos, recém-acometido por uma doença pouco divulgada, apesar de bastante comum. “Estudos estimam que a incidência dessa doença seja de 13 a 34 casos por 100 mil pessoas por ano nos Estados Unidos, e de 11,5 a 40,2 casos por 100 mil pessoas por ano na Espanha, por exemplo”, aponta o médico Cristiano Milani, vice-coordenador do Departamento Científico de Atenção Neurológica e Neurorreabilitação da Academia Brasileira de Neurologia. Infecção viral A paralisia facial periférica, também conhecida como paralisia de Bell, é rara antes dos 15 anos. Sua principal causa é a infecção viral, que ataca o nervo facial e faz com que o mesmo se inflame e inche, ficando comprimido dentro dos ossos do crânio e, consequentemente, diminuindo sua capacidade de transmitir impulsos nervosos. Diversos vírus podem atacar o nervo facial, causando paralisia: os vírus da Herpes, da Varicela Zoster (causador da catapora), o Epstein-Barr (mononucleose infecciosa), o Citomegalovírus, entre outros. Além disso, fatores como mudança brusca de temperatura, estresse e qualquer evento que interfira no sistema imunológico, como a diabetes e – até mesmo a gestação –, também podem causar o quadro. É comum equivocar-se e confundir paralisia facial periférica com a paralisia causada por um AVC. O paciente com paralisia de Bell tem perda da expressão em toda a metade da face, podendo se dar tanto do lado direito quanto do esquerdo. Esse tipo de paralisia impede o indivíduo de fechar totalmente um dos olhos, de levan- Doença, rara antes dos 15 anos, provoca perda da expressão em toda a metade da face da pessoa, podendo se dar tanto do lado direito quanto do esquerdo tar uma das sobrancelhas, franzir a testa e de sorrir. No caso de paralisia facial causada por AVC, o paciente consegue fechar os olhos e movimentar a testa, por exemplo. Essa diferenciação acontece porque as lesões ocorrem em locais diferentes do nervo facial. Enquanto na paralisia de Bell o problema ocorre depois que o nervo deixou o cérebro, na paralisia facial central (a do AVC), a lesão ocorre, como o próprio nome sugere, ainda dentro do cérebro, diretamente no sistema nervoso central. O incômodo vai além. “O nervo facial, além de promover a mímica facial, é responsável pela sensação de gosto nos dois terços anteriores da língua, pela secreção de saliva, pelas lágrimas e pela inervação do tímpano. Assim, todas essas áreas ficam comprometidas quando a paralisia ocorre”, salienta Milani. Parte dessa sintomatologia foi sentida por Rafe Aguiar. Ele contou que o que mais lhe incomodava era a forte dor de cabeça e de ouvido. O diagnóstico, para a maioria dos casos, é baseado em exames clínico e neurológico. O médico pode identificar a paralisia sem precisar de exames laboratoriais complementares. Mas, se julgar necessário, irá recorrer a uma eletroneuromiografia, útil principalmente quando há evidências de lesão da fibra nervosa (axônio). Quando se tem uma lesão periférica além da perda funcional, o mapa cortical referente à área lesada sofre alterações. Lesões de nervos periféricos são comuns, mas o sucesso no tratamento irá depender de alguns fatores, como idade, a ferida propriamente dita, reparo do nervo, nível da lesão e período transcorrido entre lesão e reparo. O tratamento costuma ser medicamentoso e fisioterápico. O cuidado com os olhos é importantíssimo. Aguiar, por exemplo, tinha uma disciplina militar para com eles. “Eu tinha de pingar o colírio no olho a cada uma hora. Mas se eu usasse o celular ou o computador esse tempo diminuía para 20 minutos. À noite, para dormir, eu usava um tampão, porque corria o risco do olho abrir, ressecar e agravar o problema”, recorda. Pacientes com paralisia facial periférica não conseguem fechar os olhos e tendem apresentar redução da produção de lágrimas. Os olhos podem tornar-se ressecados, com risco de cegueira por lesão da córnea. Aguiar ainda foi medicado com antiviral e vitaminas e fez seções de fisioterapia motora, com exercícios focados nos músculos paralisados. “Apesar de a principal etiologia ser viral, ainda não se conseguiu comprovar plenamente o benefício do uso de medicamento antiviral para o tratamento destes casos. De acordo com a avaliação médica e a gravidade dos sintomas, poderá ser utilizado ou não”, ressalta Milani. Risco ampliado A regressão completa da paralisia geralmente ocorre durante as três primeiras semanas após o início dos sintomas. Se não houver melhora após 21 dias, o risco de sequelas aumenta. No processo de recuperação, o paladar é o primeiro a se normalizar. Sequelas permanentes costumam ocorrer apenas nos casos em que a inflamação provocou lesões mais graves na fibra nervosa. “Nas sequelas permanentes e, principalmente, quando o paciente evolui com espasmos involuntários pós-paralíticos, pode ser indicado o uso da toxina botulínica que, inclusive, pode ajudar a minimizar a assimetria facial”, acrescenta o neurologista. Há casos em que a paralisia de Bell regride espontaneamente, mesmo sem a realização de tratamento. Basta o nervo desinchar. No entanto, a recuperação é mais lenta, podendo chegar a até meses. Aguiar, já recuperado, consultará outros especialistas para investigar o que desencadeou a paralisação de parte seu rosto, já que existe a possibilidade da condição retornar. Cerca de 7% dos casos de paralisia facial podem recorrer dentro de um intervalo de 10 anos. Pelo menos 3% dos pacientes apresentam mais de uma recorrência, com três a quatro episódios nesse espaço de tempo. Divulgação


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