Page 22

Jornal419_site.pmd

Futuros esportistas precisam de aval médico Cada modalidade exige acompanhamento e liberação, de acordo com a fase de maturidade física da pessoa 22 SAÚDE A realização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, certamente, será responsável por um aumento do número de crianças e adolescentes que se lançam à vida esportiva, seja para fins de lazer ou competitivos. Alguns, inspirando-se nos ídolos olímpicos, buscarão desempenho e índices que lhes possibilitem participar de grandes eventos esportivos nacionais e até internacionais. Que a atividade física é algo saudável – e necessário – ninguém discorda. Nem todos sabem, contudo, que ela exige cuidados, principalmente quando iniciada precocemente. São vários os motivos que recomendam uma visita ao médico antes de introduzir os pequenos na vida esportiva, a começar pelo fato de que existe um momento certo para iniciar cada modalidade. “A aquisição de habilidades específicas é gradual, e somente com base nelas podemos determinar qual é o esporte mais adequado para cada faixa etária”, afirma o ortopedista Miguel Akkari, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Uma criança não está preparada para aulas de natação antes dos quatro anos, pois para tanto é necessária uma coordenação motora que ela ainda não desenvolveu. Até os quatro anos, a criança está apta apenas para brincar na água. A musculação, por sua vez, responsável pela modelagem do corpo e necessária para melhorar o desempenho competitivo, é muito procurada por adolescentes. Mas não é recomendada antes do chamado “estirão”, ou seja, antes da maturidade física. Nas meninas, isso acontece após a primeira menstruação e, nos meninos, por volta dos 16 anos. Tais critérios confrontam a massificação das academias no Brasil – hoje, somos o segundo maior mercado do mundo em número de estabelecimentos para “malhação”, nos quais a supervisão profissional é praticamente inexistente, fato responsável pelo aumento das lesões entre os adeptos. Foi por isso que o termo overtraining , antes restrito ao universo dos adultos, ganhou espaço nos consultórios. “Muitos jovens com aptidões para serem grandes atletas têm seu futuro esportivo comprometido por causa de exageros que lesam, às vezes permanentemente, seu potencial físico e os afetam psicologicamente”, observa Akkari, profissional que coordenou a preparação do manual “Olimpíada da Prevenção”, lançado neste mês, que explica como a atividade física deve ser trabalhada durante a infância. “É como se o corpo soubesse que precisa crescer verticalmente, mas, de repente, se vê sem saber exatamente o que fazer, porque recebe a informação de que também precisa crescer horizontalmente (hipertrofia)”, descreve o pediatra Ricardo do Rego Barros, diretor da Sociedade Brasileira de Pediatria. Os especialistas afirmam que a musculação até pode ser iniciada antes do “estirão”, lá por volta dos oito anos, mas com muita cautela, sob supervisão rigorosa de um profissional de educação física credenciado no Conselho Federal de Educação Física e mediante avaliação cuidadosa. Barros, que também é especialista em medicina desportiva, sugere para essa idade um programa de musculação de uma ou duas séries de oito a 15 repetições dos grandes grupos musculares, usando somente pesos livres (halteres) – nada de máquinas – e não mais do que 20 a 30 minutos por dia, em torno de três vezes por semana. De modo geral, até os sete anos recomendam-se exercícios que trabalhem atividades lúdicas, motoras básicas e de socialização, como correr, saltar, arremessar, segurar, chutar. A natação, a corrida, o futebol e as danças são esportes que contam com esse tipo de movimento. Dos oito aos 10 anos já é possível combinar as habilidades anteriores com a velocidade de esportes como o ciclismo e o atletismo. Aos 11 anos, já dá para investir em modalidades de resistência como as lutas, a ginástica, exercícios com bola e o já mencionado atletismo. O cuidado aqui é com a carga – nada de exageros. A prática esportiva competitiva só deve entrar na vida da criança a partir dos 13 anos. “Nessa idade há um aguçamento do espírito competitivo, a experiência da vitória passa a ser muito significativa e somente nesse estágio a criança começa a administrar melhor a ideia de se esforçar para vencer, e também de se arriscar a fracassar”, explica Barros, ressaltando que a prática esportiva “ajuda na interação social de crianças tímidas, desenvolve o espírito de equipe e a disciplina”. Especialidade A consulta médica especializada antes da iniciação esportiva é uma boa oportunidade para entender as especificidades de cada criança e adolescente e minimizar os riscos. Crianças de idades e condições de saúde diferentes precisam de recomendações diferentes. Na maior parte das vezes, os pais tentam influenciar os filhos no que diz respeito à pratica de esportes, o que lhes pode ser prejudicial, daí a importância da consulta com um especialista. O médico é quem tem condições de avaliar a saúde global da criança, testar suas acuidades visual e auditiva, verificar eventuais carências nutricionais que podem limitar certas atividades físicas, definir o grau de maturidade física da criança, detectar condições de risco preexistentes e patologias familiares que possam levar a problemas durante os exercícios, e indicar quais esportes ela pode e os que não pode praticar. Problemas cardiovasculares, embora sejam mais comuns em pacientes com mais idade, também pode afetar os jovens. Diagnosticados quaisquer sintomas de cardiopatia (sopro, arritmia, hipertensão arterial) ou musculoesqueléticos (lordoses, assimetrias), uma avaliação mais específica é prescrita. Ao final, o médico poderá atestar as condições clínicas da criança e do adolescente para a prática de esportes. Tomados todos os cuidados, a participação de crianças e adolescentes em atividades será muito mais prazerosa. Além dos conhecidos benefícios à saúde muscular, a significativa redução às chances de sobrepeso e a prevenção de futuras doenças, como as cardiovasculares, estudos científicos indicam que adolescentes que praticam esportes tendem a ser confiantes, exercer liderança e ter melhor desempenho acadêmico. NA PISTA: A partir dos oito anos de idade, a criança poderá combinar algumas habilidades com o ciclismo e o atletismo


Jornal419_site.pmd
To see the actual publication please follow the link above