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22 SAÚDE Intenso desconforto A intolerância à lactose não traz risco de morte, mas causa distúrbios, como náuseas e diarreia; já a alergia provoca sintomas mais perigosos O leite é um alimento versátil. A partir dele são produzidos a manteiga, o queijo, o requeijão, o creme de leite, o leite condensado, o iogurte e muitos outros derivados. Além de satisfazer o paladar, traz inúmeros benefícios à saúde. Além de ser fonte de proteínas, é rico em cálcio, nutriente importante na prevenção de doenças como a osteoporose. Entretanto, nem todos podem ingerir leite à vontade. Alguns, nem sequer podem sentir seu cheiro, estando sujeitos a sérios desconfortos intestinais, vômitos, urticária e até choque anafilático. Intolerância à lactose e alergia à proteína do leite de vaca são os dois distúrbios responsáveis por restringirem o contato de algumas pessoas com o leite. Essas duas condições são frequentemente confundidas. Produzida no intestino delgado, a enzima lactase é responsável por quebrar o açúcar do leite em moléculas menores, como glicose e galactose, para que possam ser absorvidas pelo organismo. “Pacientes com carência dessa enzima não conseguem digerir a lactose. Como consequência, ela chega ao intestino grosso intacta, sofre a ação de bactérias que acabam produzindo acido láctico e gases, que são os responsáveis pelos sintomas”, detalha o médico Antônio Frederico de Magalhães, professor titular de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Apesar de a intolerância não trazer risco de morte, seus sintomas causam um intenso desconforto, caracterizado por dor abdominal, náusea, gases, diarreia e cólicas. “A intensidade dos sintomas varia conforme o grau de deficiência de lactose, da quantidade de lactose ingerida e da sensibilidade de cada indivíduo”, completa o especialista. Magalhães afirma que a intolerância à lactose é recorrente. “A intolerância atinge 50% dos adultos brasileiros e é mais frequentemente diagnosticada em adultos, porque o envelhecimento provoca uma diminuição gradual da quantidade de lactase”, declara. A intolerância é uma condição incurável. Os sintomas são tratados limitando-se os produtos com leite ou derivados. Uma forma de evitá-los é experimentar os suplementos da enzima lactase, disponíveis no mercado em comprimidos, pós ou tabletes mastigáveis. O medicamento deve ser ingerido junto com os laticínios. Ele quebra a lactose, melhorando a digestão do alimento. A alergia ao leite de vaca (APLV) é uma reação do sistema de defesa do organismo às proteínas desse alimento. As manifestações da alergia são extremamente variadas. Podem surgir desconfortos gastrointestinais, como na intolerância à lactose, mas geralmente os incômodos vão além e são mais perigosos, incluindo dificuldades respiratórias (asma, chiado no peito e rinite) e reações anafiláticas que comprometem todo o organismo e apresentam risco à vida. “O alérgico não precisa necessariamente ingerir o leite puro para ter reações. Qualquer contato com alimentos (biscoito, bolo e alimentos salgados, como sopas e molhos) ou produtos (medicamentos e cosméticos) que contêm proteínas do leite, por menor que seja a sua concentração, podem deflagrar o quadro alérgico”, destaca a alergista Ana Paula Moschione Castro, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). Das alergias alimentares, a do leite é a que lidera as ocorrências de reações, seguida pela do ovo, do amendoim e da soja. Proteínas De acordo com Ana Paula, o acompanhamento do alérgico por um especialista é fundamental: “O tratamento mais utilizado nesse caso é a retirada do leite e seus derivados da dieta alimentar da criança. É preciso encontrar um alimento adequado que substitua o leite e ofereça quantidades certas de nutrientes para esta fase do desenvolvimento”. A tolerância do organismo às proteínas do leite pode vir com o passar do tempo, com a reintrodução do leite, sempre condicionada a aval médico. A APLV ocorre principalmente em bebês, quando estes passam dos seis meses de vida e deixam de ser alimentados com leite materno para consumirem leite de vaca. “O organismo reage ao leite de vaca de maneira exagerada. Ele encara as proteínas do leite como uma substância estranha e perigosa e, então, trata de produzir anticorpos que as eliminem e que consequentemente acarretarão os sintomas alérgicos”, explica a alergista. Para um bom diagnóstico da intolerância à lactose e da alergia às proteínas do leite, é importante o relato minucioso da história alimentar e do aparecimento dos sintomas. Exames complementares auxiliam o diagnóstico em ambos os casos. Um teste simples, e que ajuda na investigação clínica dos problemas, é a dieta de restrição. Também se indicam exames de tolerância. No caso da intolerância ao produto, os pacientes recebem uma dose de lactose em jejum e, depois de algumas horas, amostras de sangue são colhidas para medir os níveis de glicose, que nos portadores desse distúrbio permanecem. Outros dois testes que podem ser realizados são o de hidrogênio na respiração, que consiste em o paciente ingerir uma bebida com alta quantidade de lactose e, em seguida, o médico analisar o hálito da pessoa em intervalos que variam de 15 a 30 minutos. Quanto maior o nível de hidrogênio, mais incorreto é o processamento de lactose. Recomenda-se ainda o tradicional teste de fezes, que procura detectar ácidos que são produzidos em grande quantidade por pacientes com a intolerância. Já no caso da alergia às proteínas do leite, um exame de sangue pode especificar o alimento suspeito. Auxilia no diagnóstico o teste cutâneo de hipersensibilidade imediata. Aqui, substâncias extraídas dos alimentos ou de outros alérgenos são colocadas sobre a pele dos pacientes. Após 15 minutos, é possível observar se há reação nos locais onde foram aplicados os alérgenos. Divulgação


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