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Wilson 14 A crise econômica tem sido responsável pelo aumento no número de reclamações trabalhistas? Na medida em que as empresas enfrentam dificuldades, elas tendem a reduzir o quadro de empregados. Como temos hoje um contingente de 12 milhões de desempregados, isso reflete impreterivelmente nas reclamações trabalhistas. Existe um perfil típico do trabalhador brasileiro: enquanto está empregado, ele não reclama, deixa para mover ação quando perde o emprego. Ou seja, se temos uma projeção para este ano de quase meio milhão de reclamações das quais 90% são de pessoas que perderam o emprego, por que razão não reclamaram antes, já que tinham esse direito? No meu entendimento, é por medo de perder o emprego. Até que ponto a reforma trabalhista é importante? Tenho muito receio de alterar regras que já se encontram estabilizadas há décadas, em tempos de crise. É neste momento que não se pode falar em alterações das estruturas, porque é muito sedutor o argumento de que retirando direitos a gente vai gerar mais empregos. Não vejo uma reforma trabalhista que não seja no contexto de retirar direitos. Não precisa haver reforma, porque, numa mudança, é óbvio que serão retirados direitos. Principalmente nessa situação de grande dificuldade que estamos atravessando, isso não seria adequado e poderia trazer uma precarização do direito. ENTREVISTA No comando da maior corte trabalhista do país pelos próximos dois anos, o desembargador Wilson Fernandes sabe que o trabalho será intenso. Entre os desafios está o de dar andamento a quase meio milhão de processos previstos para tramitar no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região neste ano de crise brasileira em que o desemprego bate na casa de 12 milhões de pessoas. Há 30 anos na magistratura, o novo presidente do TRT-2, empossado em 3 de outubro, acredita que o corte orçamentário será um dos principais problemas de sua gestão. “Em 2015, o Tribunal quase fechou as portas por conta do contingenciamento da Lei Orçamentária. Dependendo do orçamento para o ano que vem, vamos enfrentar as mesmas dificuldades em 2017”. Nascido na cidade de Brotas, Fernandes mudou-se para São Paulo aos 18 anos para cursar a Faculdade de Direito da USP. Ingressou no TRT-2 em 1986, após ter sido procurador do Estado por dois anos. Com tom conciliador – atuou por mais de 14 anos como juiz-presidente da 16ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Paulo –, o magistrado acredita que a conversa é o melhor caminho para solucionar os problemas com a Justiça. O diálogo também será a linha adotada por ele para conduzir a interlocução com a advocacia. Cristóvão Bernardo


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