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PREJUDICIAL: Quem dorme menos do que o necessário envelhece precocemente, está mais propenso a infecções, obesidade, hipertensão e diabetes 22 SAÚDE Dormir mal pode causar vários danos à saúde Advogados estão entre as principais vítimas dos distúrbios do sono que atingem quase 70% da população da cidade Em São Paulo, na escuridão de ruas vazias, é possível ouvir o piar do sabiá-laranjeira. A ave-símbolo da cidade canta cinco horas antes e encerra seu expediente quatro horas mais tarde do que seus semelhantes do interior do Estado. Foi o que percebeu um estudo do Instituto Passarinhar, divulgado há cerca um ano. O fenômeno mostra que até a pequena ave hoje experimenta o dissabor de um distúrbio antes restrito aos seres humanos que vivem na metrópole: a insônia. A doença integra a extensa lista de distúrbios do sono. De modo geral, essas perturbações provocam mudanças nos padrões e hábitos de dormir que podem afetar a saúde. A insônia caracteriza-se pela dificuldade em iniciar e manter o sono durante a noite. É um quadro predominante em mulheres, mas também afeta os homens. Pode ocorrer isoladamente, por maus hábitos, ou estar relacionada com doenças como ansiedade, depressão e aquelas que causam dores crônicas. A dificuldade de pregar os olhos tem crescido na capital paulista. Em 2007, o Instituto do Sono e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) monitoraram o sono dos paulistanos. Na época, o estudo mostrou que 67% dos moradores de São Paulo tinham dificuldade para dormir. Ao repetirem o trabalho em 2016, as instituições constataram um aumento de 16% sobre o resultado anterior. Especialista em Medicina do Sono, a neurologista Rosana Cardoso Alves, membro da Academia Brasileira de Neurologia, está acostumada a atender advogados com quadros de insônia. “A carga de trabalho, os prazos, as decisões de altos teor e interferência humanísticos e outras situações do dia a dia forense forçam esses profissionais a adotar condutas que reverberam diretamente na qualidade do seu sono – como passar a noite trabalhando em vez de descansar ou, ainda que na cama, passar a noite pensando nos problemas que têm de resolver no dia seguinte”, explica. O uso da tecnologia antes de dormir também contribui com a insônia. A luz do tipo LED usada para iluminar as telas de smartphones, tablets e outros gadgets luminosos é rica em radiação azul (de menor comprimento de onda). Essa luz, quando em contato com a retina dos olhos à noite, engana o organismo. “A luz inibe a produção de melatonina, o hormônio do sono. O organismo então entende que ainda é dia e que é preciso permanecer em alerta, acordado”, esclarece Rosana Cardoso Alves. A especialista vai além: “A depender do conteúdo a que o indivíduo seja exposto enquanto usa o smartphone ou o tablet, isso pode gerar um estresse e, consequentemente, dificultar ainda mais a iniciação do sono, já que a insônia ocorre quando há um aumento do alerta cerebral”. A ausência de um sono reparador prejudica a saúde. Estudos provam que quem dorme abaixo do tempo necessário tem menor vigor físico, envelhece precocemente, está mais propenso a infecções, obesidade, hipertensão e diabetes. Uma noite mal dormida deixa muitos sinais que prejudicam o desempenho social e profissional. Fadiga, déficit de atenção e memória, irritabilidade, sonolência diurna, redução de energia ou de iniciativa para realizar tarefas, dores de cabeça e desconfortos gastrointestinais são alguns deles. Na aflição de avançarem noite adentro sem conseguir fechar os olhos e deixar que o corpo descanse para o dia seguinte, muitos recorrem a medicações que provocam sedação e induzem ao sono, as quais podem ser compradas facilmente nas farmácias. Dados da última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2013, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que 7,6% da população com 18 anos ou mais fazem uso de medicamentos para dormir – o que representam 11,2 milhões de pessoas. A neurologista Rosana Cardoso Alves alerta para o risco do uso indiscriminado desses remédios. “Essas medicações realmente são efetivas e receitadas quando necessárias. Mas devem ser usadas por um período curto de tempo, pois, no longo prazo, seus efeitos não são nada bons. Há risco de tolerância e dependência”, adverte. Além do tratamento medicamentoso que pode vir a ser indicado, recomenda-se a terapia cognitivo-comportamental. O objetivo é fazer com que o insone se livre de comportamentos e pensamentos que o inibam de dormir. Agora, se a insônia na verdade for sintoma de um problema mais sério, como depressão ou ansiedade, não há como dormir melhor sem tratamento específico. Daí a importância de um bom diagnóstico. O diagnóstico da insônia é realizado por uma completa e detalhada anamnese médica. É interessante, portanto, que o paciente faça um “diário do sono”, registrando informações como o horário em que se deita, o tempo para adormecer, o número de vezes que acorda durante a noite, o tempo em que fica acordado na noite, a duração do sono, a presença de cochilos diurnos e outros sintomas que o paciente julgar relevantes. Essa prática poderá ser continuada durante o tratamento da insônia, de modo a observar a resposta do paciente à terapêutica adotada. Para melhorar o sono, é importante evitar alguns hábitos antes de dormir, como mudar constantemente as horas de deitar e levantar, o consumo de cafeína, a atividade física forte, o uso excessivo de celular e internet e outros. “A importância que o sono tem no funcionamento do nosso corpo e da nossa mente é grande. Melhorar a qualidade do sono é melhorar a qualidade de vida”, finaliza a neurologista. Divulgação


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