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TRANSMISSOR: O aedes aegypti é a espécie de mosquito mais numérica do planeta 22 SAÚDE Febre amarela volta a preocupar Aumento de mortes na versão silvestre acende o alerta para a doença, transmitida pelo aedes aegypti, retornar às áreas urbanas O Ministério da Saúde decretou, em julho, que o Estado do Rio de Janeiro seria mais uma zona de vacinação permanente contra a febre amarela. Isso significa que tanto os moradores do território fluminense quanto as pessoas que desejarem viajar para lá devem se vacinar. O estado carioca não registrava casos de febre amarela há mais de 70 anos, e até o momento não há nenhum apontamento da doença em áreas urbanas, mas de janeiro a julho foram confirmados 22 casos e oito mortes. em todo o Brasil, 797 casos da versão silvestre da doença, com 275 mortes – maior incidência desde o início da série histórica, em 1980. Preocupa, portanto, a possibilidade de a febre silvestre afetar as zonas urbanas. A médica Tânia Chaves, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, atesta que há na comunidade médica o temor quanto ao retorno da doença às áreas urbanas do país, São Paulo inclusive. “O último relato de transmissão urbana no Brasil ocorreu no Acre, em 1942. A partir dessa data, a transmissão silvestre passou a predominar com registros de epidemias cíclicas e intervalos regulares de cinco a sete anos. Hoje, temos o maior surto dos últimos tempos. O temor da reurbanização está entre nós. Temos condições climáticas e a presença de um forte vetor de transmissão da doença no ciclo urbano”, diz a infectologista. Corrobora com essa apreensão a pesquisa dos Institutos Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e Evandro Chagas, em parceria com o Instituto Pasteur, de Paris, divulgada na revista Scientific Reports, em 7 de julho último. De acordo com o estudo, existe risco real de a febre amarela voltar a ser uma doença das cidades. Infecciosa de gravidade variável, a febre amarela possui dois ciclos de transmissão: um silvestre e um urbano. Do ponto de vista etiológico, clínico, imunológico e fisiopatológico, a enfermidade é a mesma nos dois ciclos. A diferença é quanto aos transmissores. No ciclo silvestre, em áreas florestais, os vetores da febre amarela são principalmente os mosquitos haemagogus e sabethes. Já no meio urbano, a transmissão se dá pelo aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue, a chikungunya e o zika. A infecção acontece quando uma pessoa que nunca tenha contraído a febre amarela ou tomado a vacina contra ela circula em áreas florestais e é picada por um mosquito infectado. Ao contrair a doença, a pessoa pode se tornar fonte de infecção para o aedes aegypti no meio urbano. Como o aedes aegypti é a espécie de mosquito mais numérica do planeta, segundo a Agência Europeia para Prevenção e Controle de Doenças, e pica em média uma pessoa a cada trinta minutos, reside aí o temor de uma epidemia urbana. Além disso, o transmissor tem capacidade de resistir ao ambiente que outros vetores não têm. Apesar de preferir água limpa para colocar seus ovos, a falta dela não o impede de se reproduzir. Estudos científicos já mostraram que a fêmea pode depositar seus ovos em água com maior presença de matéria orgânica. Os ovos também podem permanecer inertes em locais secos por até um ano, e, ao entrar em contato com o mínimo de água, desenvolvem-se rapidamente, num período de sete dias, em média. Tanto o mosquito quanto a febre amarela urbana já chegaram a ser erradicados do Brasil. Na época, eliminar a doença das cidades era condição essencial para abrir os portos ao comércio marítimo e a imigrantes estrangeiros e propagar a imagem de um país moderno. O epidemiologista Oswaldo Cruz comandou uma campanha intensa, erradicando a febre amarela urbana e o aedes aegypti, este último temporariamente. Hoje, poucos especialistas falam na erradicação do mosquito. A vacina, por sua vez, é a medida mais importante para prevenção e controle da febre amarela. A febre amarela leva de três a seis dias – podendo se estender até 15 – para se tornar aparente. Os sintomas caracterizam-se por manifestações de insuficiência hepática e renal. São eles: febre, calafrios, dor de cabeça, dores musculares generalizadas, dor na lombar, cansaço, náuseas e vômitos, que duram por três dias. Após esse período, os sintomas diminuem e a sensação de melhora vem, mas dura pouco, cerca de dois dias. Então, inicia-se a fase mais grave da doença. A febre reaparece de forma elevada, com temperaturas de 40°C, surgem a diarreia, os vômitos, a icterícia, a redução na produção de urina e manifestações hemorrágicas que podem levar à morte. Ressalte se que a forma mais grave da doença é rara. “A apresentação da doença se confunde com outras síndromes febris, como gripe, por exemplo. Um diagnóstico específico pode ser feito pelo isolamento viral, por sorologia (detecção de anticorpos) e, quando indicado, por detecção de partículas virais nos tecidos, por exemplo, do fígado (este último realizado somente em laboratórios de referência em saúde pública)”, explica Tânia Chaves. O tratamento exige que o paciente permaneça em repouso, com reposição de líquidos, podendo, em grau extremo, necessitar de transfusão de sangue e hemoderivados. Nas formas graves, deve ser internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em caso de suspeita de febre amarela, é recomendado evitar a ingestão de medicamentos que contenham ácido acetilsalicílico (AAS, Aspirina, Buferin, Melhoral, Doril e outros). Esses remédios aumentam o risco de sangramentos. “Quem já teve febre amarela adquire imunidade para toda a vida”, acrescenta a infectologista da SBI. Imunização Produzida no Brasil desde 1937 pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, a vacina contra febre amarela é ofertada em 19 estados com recomendação para imunização (consulte mapa das regiões de risco na página do Ministério da Saúde, www.portalsaude.saude.gov.br). A vacina demora dez dias para fazer efeito. Por isso, recomenda-se tomála com antecedência em caso de viagem a regiões de risco. Desde abril deste ano, o Ministério da Saúde passou a considerar que somente uma dose é suficiente para imunizar as pessoas contra a doença, assim como a Organização Mundial da Saúde já preconizava. Apenas as crianças com menos de cinco anos precisam de uma segunda dose, chamada de reforço. Embora altamente eficaz, a vacina tem contraindicações para vários grupos, pois é feita com vírus atenuado, não com vírus morto. Ela é proibida em crianças com menos de seis meses, imunodeprimidos debilitados (soropositivos, pessoas em tratamento de câncer, por exemplo), pessoas com alergia a ovo, grávidas e pessoas com doença do timo. Além disso, não pode ser ministrada sem prescrição médica em mulheres que estão amamentando, crianças de seis meses a nove meses e adultos acima de 60 anos com alguma doença. Divulgação


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