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Boris 14 ENTREVISTA O debate em torno da aprovação de uma reforma política ficou mais acirrado em agosto, com o trâmite de propostas na Câmara dos Deputados. O historiador Boris Fausto, cuja trajetória soma a formação em Direito pela Universidade de São Paulo e estudos aprofundados da política brasileira, faz paralelo entre o país de hoje e o de décadas passadas, comenta mudanças sugeridas para as eleições do Legislativo e cita alguns desafios para o Judiciário. O sr. já relatou muitos momentos políticos do Brasil, desde a ditadura de Vargas, passando pela ditadura militar, até os impeachments de Fernando Collor e Dilma Rousseff. Esse é o momento mais desafiador para a política brasileira, considerados desafios de época e contexto? Vamos comparar com a saída do regime militar. Havia, na época, um consenso muito grande na sociedade de que era preciso acabar com a ditadura e implementar um regime democrático. Remover o entulho autoritário, como se dizia, parecia um caminho claro. Era quase um objetivo de frente única, digamos assim, unia várias correntes que depois iriam se afastar. A crise era a do regime autoritário, que estava morrendo, e o novo, no plano político, era implementar o regime democrático que defendia maior igualdade e distribuição de renda, havia um certo consenso também no plano social. Hoje a situação é mais complicada porque estamos em uma democracia e está tudo in suspenso, vivemos impasses tremendos. O cenário é mais indefinido. O Executivo passou por dois impeachments no novo período republicano. O Judiciário tem figuras importantes, mas tampouco funciona bem. Em geral, agora, a equipe econômica vai bem, de alguma maneira há uma retomada lenta. Mas a parte política, para falar francamente, é um desastre. Os escândalos têm atrapalhado muito a saída para estancar o desemprego, por exemplo, e o rumo à recuperação. O Congresso funciona mal. Qual é o elo entre representantes e representados? É praticamente nulo e isso é um problema muito grande em uma democracia. E, sobretudo, algo muito importante, não há nomes que polarizem ou sintetizem uma saída clara para essa situação. O sr. não enxerga lideranças em potencial? O Brasil hoje praticamente não tem. Que nomes o sr. citaria como líderes do nosso histórico político? Vou citar referências políticas independentemente da minha opinião ou ideologia, de gostar ou não delas. O Getúlio Vargas é uma referência política muito forte nesse país. Claro, cometeu muitas barbaridades, mas organizou muitas coisas. Citaria ainda Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Mário Covas, Franco Montoro, para comentar alguns. Não houve substituição de gerações. José Luís da Conceição


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