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22 SAÚDE Crianças são as principais vítimas de queimaduras É a segunda maior causa de morte no país, mas acidentes domésticos podem ser evitados com medidas adequadas O número assusta: um milhão de pessoas sofrem queimaduras no Brasil por ano. De acordo com o Ministério da Saúde, a maior parte dos casos ocorre na residência das vítimas e quase a metade envolve crianças, principalmente aquelas com menos de cinco anos. Algumas medidas tomadas no imediato momento após um acidente por queimadura podem ser fundamentais para a vida da pessoa. Porém, muitas dessas ocorrências domésticas recebem tratamento inadequado. “Os dados sobre queimaduras são pouco divulgados. Trata-se de um problema negligenciado”, diz Luiz Philipe Molina Vana, presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). Criada em 1995, a SBQ reúne profissionais multidisciplinares dispostos a contribuir nesse campo com estudos e pesquisas, além de promover a conscientização sobre prevenção e primeiros socorros. “As queimaduras são a segunda maior causa de morte de crianças no Brasil: só perdem para os acidentes automobilísticos”, informa Vana. Em termos técnicos, queimaduras são lesões decorrentes do contato direto com agentes capazes de produzir calor excessivo que danifica os tecidos corporais e acarreta morte celular. Também podem ser causadas pelo frio, mas tais casos são raros em regiões tropicais como o Brasil. Fogo, líquidos ferventes, vapores, objetos quentes, excesso de exposição ao sol, produtos químicos, corrente elétrica, radiação ou mesmo alguns animais e plantas – como larvas, água-viva, urtiga – são potenciais causadores de queimadura. Os acidentes podem atingir apenas a camada mais superficial da pele (epiderme) ou a mais profunda (derme), chegando a comprometer, em casos extremos, músculos e ossos. Cada lesão é classificada segundo a profundidade de dano à pele – primeiro, segundo e terceiro graus – e sua extensão corporal. Em conjunto, essas classificações determinam a gravidade e o risco de morte do paciente. As queimaduras de primeiro grau afetam a camada mais superficial da pele. Essa lesão apresenta aspecto avermelhado, calor e dor. Já a característica principal da lesão de segundo grau é a formação de bolhas, além da dor. As de terceiro grau têm aspecto esbranquiçado e podem ser profundas a ponto de atingir músculos e estruturas ósseas, destruir nervos, folículos pilosos, glândulas sudoríparas e capilares sanguíneos. Nas crianças, costumam atingir face, tronco, mãos e braços. E na infância ocorrem, na maioria das vezes, por escaldamentos: os pequenos, com a curiosidade característica da idade, ao ver o cabo da panela virado para fora do fogão, puxam provocando o acidente. Já entre os adultos, as queimaduras na face são menos frequentes. Geralmente são causadas por encostar o braço em uma frigideira quente, pela gordura que pula ao jogar um alimento na panela ou por um descuido com o ferro de passar roupas. Nesses casos, em geral, as lesões são pequenas. No entanto, os maiores também sofrem danos mais extensos e graves dentro de casa, não raro ao manusear álcool líquido para acender churrasqueiras. Mitos e socorro Para socorrer uma vítima, deve-se “abrir uma torneira e colocar a zona afetada embaixo da água corrente, que tem de estar em temperatura ambiente, por 15 minutos ou até que a pessoa sinta que a área queimada esteja resfriada”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras, Luiz Vana. De acordo com ele, especialmente em queimaduras de segundo grau, num primeiro momento, não se sabe muito bem se a lesão é superficial ou profunda. “Quando o procedimento é realizado imediatamente após o acidente, a gravidade da lesão diminui.” É mito, portanto, que pôr a mão queimada na água ajude a formar bolhas. As bolhas, ressalte-se, não podem ser estouradas. No caso de arrebentarem, expondo a ferida, recomenda-se cobrir a área com gaze ou um pano limpo e úmido para evitar contato com o ambiente. Deve-se procurar atendimento médico imediato. “Para toda queimadura de segundo e terceiro graus, devese buscar o socorro médico, mesmo para aquelas que são pequenas, pois elas podem acarretar em complicações funcionais, como dificuldade para fechar o olho, caso ocorra na face, ou para mexer os dedos, quando afetam mãos e pés”, recomenda o especialista. Os contatos para resgates são: Samu 192 e Bombeiros 193. Registre-se que pacientes queimados não devem retirar a roupa que estiverem usando, ainda que esta tenha sido atingida pelo fogo. O ideal é molhá-la e permanecer assim até a chegada ao pronto-socorro, para evitar que as bolhas estourem e que a pele seja arrancada. É preciso cuidado para retirar acessórios, como pulseiras e anéis – o corpo incha após uma queimadura e esses objetos podem ficar presos. Cuidados especiais Não há produto ou receita caseira que alivie as dores e ajude nas lesões causadas por queimaduras, mesmo para aquelas mais leves. Nenhum dos seguintes agentes deve ser usado sobre a área traumatizada: gelo, clara de ovo, creme dental, pó de café, manteiga, vinagre, água sanitária, leite, álcool e babosa. Também não são indicados para casos graves pomadas, cremes e sprays, pois a pele danificada absorve substâncias com mais facilidade e a limpeza no prontosocorro será difícil e dolorosa. “Passar qualquer coisa nestes casos aumenta o risco de infecção por bactérias, já que a barreira natural do organismo – a pele – está danificada”, explica Vana. Em caso de queimadura de primeiro grau – e apenas nessa situação – é permitido tomar um analgésico que combata a dor e fazer uso de óleo mineral, hidratante e filtro solar na zona afetada. O alívio da dor vai depender muito do agente que causou o problema. Se for térmico, o alívio é mais rápido. Se for químico, levará mais tempo. “Queimaduras de primeiro grau tendem a sarar em cinco dias”, salienta o médico. Contudo, a prevenção é fundamental. “Em casa, esse tipo de acidente é prevenível. Alguns cuidados básicos reduzem drasticamente as chances de queimadura, principalmente em crianças, como colocar as panelas nas bocas traseiras do fogão, com cabos virados para trás ou para o lado; guardar solventes, combustíveis e outros produtos químicos em recipientes adequados, fechados e fora do alcance”, finaliza. CURIOSIDADE: É importante colocar as panelas na parte traseira do fogão para evitar que as crianças puxem o cabo e provoquem acidentes graves Divulgação


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