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Uso de contraceptivos pode causar trombose Responsável pelo risco da doença, estrogênio age no fígado e quanto maior a dose deste hormônio, mais o perigo aumenta 22 SAÚDE As pílulas anticoncepcionais tiveram papel fundamental na emancipação feminina e na chamada revolução sexual, nos anos 60. Rapidamente, tornaram-se o método contraceptivo oral mais utilizado pelas mulheres. Desde então, em contrapartida, enfrentam questionamentos quanto aos efeitos colaterais da carga hormonal que descarregam nas usuárias. A principal preocupação é o risco de trombose venosa decorrente do uso do esteroide. Trata-se de um medicamento que tem como finalidade básica impedir a concepção. Geralmente, é fabricada com dois hormônios: progesterona e estrogênio, semelhantes aos produzidos pelo ovário. Essa dose extra de hormônio causa alterações nas características físico químicas do endométrio e do muco cervical, inibindo a ovulação e tornando a mucosa menos atraente para os espermatozoides penetrarem a cavidade uterina. Quando usado corretamente, a taxa de falha do contraceptivo é de 0,1%. O responsável pelo risco aumentado de trombose é o estrogênio. “O estrogênio contido nessas pílulas age no fígado e induz no órgão um aumento das proteínas responsáveis pela formação dos coágulos. Quanto maior a dose deste hormônio, maior o risco de trombose venosa”, explica o ginecologista André Malavasi, presidente da Comissão de Trombose na Mulher da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). No Brasil, o estrogênio usado na maioria das pílulas é o etinilestradiol e o que muda da pílula de um laboratório para a de outro é a dosagem. A trombose venosa é um tipo de coágulo sanguíneo que se forma em uma veia, em geral nas pernas. Sem tratamento, o comprometimento venoso afeta a qualidade de vida dos pacientes, que podem sofrer os seguintes sintomas: desconforto, sensação de cansaço e peso na perna, queimação, ardência e inchaço nos membros inferiores. Há tendência ao agravamento do quadro se nada for feito, com o surgimento de feridas e até de embolia pulmonar, quadro que ocorre quando o coágulo se solta e viaja pelo organismo, se alojando em uma das artérias do pulmão, obstruindo o fluxo de sangue e levando à morte. “Note-se que a trombose se manifesta em um único membro e seus sintomas são mais latentes no fim do dia”, informa o angiologista e cirurgião vascular Marcelo Moraes, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV). “A trombose é uma doença multifatorial, desencadeada pela associação de diferentes fatores de risco que vão além das pílulas anticoncepcionais. Para se ter uma ideia, constituem fatores de risco para trombose: câncer, pós-operatório de cirurgias e hospitalizações prolongadas, idade avançada, presença de varizes, fumo, obesidade, longas viagens de avião e gravidez”, alerta Moraes. André Malavasi corrobora: “De cada 10 mil mulheres usuárias do anticoncepcional combinado, quatro terão trombose. Este risco é muito inferior ao risco de trombose que a gestação traz, por exemplo, que é de quatro a seis vezes durante a gravidez e de 20 vezes nas seis semanas do pósparto. De cada 10 mil gestantes, 29 terão trombose, e no pós-parto, 400”. Apesar dos eventuais riscos por uso de anticoncepcionais (além da trombose, enjoo, vômito, dor de cabeça, tonteira, cansaço, inchaço, acne, mancha escura na face, mudança de humor, diminuição do desejo sexual), especialistas e a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são unânimes: os anticoncepcionais são seguros e eficazes e seus benefícios superam os riscos. Além de impedir a gravidez, as pílulas anticoncepcionais também podem ser prescritas para regularizar o ciclo menstrual, diminuir o fluxo menstrual, diminuir a ocorrência de cólicas menstruais, melhorar as acnes leves e o hirsutismo (pelos em quantidade aumentada e em regiões como buço e queixo). “Entre os chamados benefícios extra-contraceptivos, há também a redução do risco de câncer de endométrio e ovário”, acrescenta Malavasi. Não se deve tomar anticoncepcionais por conta própria. Como toda droga, as pílulas contraindicadas em algumas situações, como predisposição à doença venosa, por exemplo. Além disso, quando ingeridas junto com outros medicamentos, como alguns antibióticos, podem ter seu efeito contraceptivo diminuído. Cabe ao profissional de saúde escolher o método contraceptivo mais adequado ao perfil de cada mulher e oferecer soluções para aquelas que não podem ou não querem fazer uso da pílula combinada. “Existem outros métodos contraceptivos, indicados principalmente para as mulheres predisponentes à trombose, como as pílulas só com progesterona, os implantes que contém apenas progesterona, os dispositivos intrauterinos (DIU) com cobre ou progesterona e os métodos de barreira ou comportamentais, como o uso da camisinha”, lista o ginecologista da Febrasgo. No caso da contracepção, como em qualquer outro campo da saúde, hábitos saudáveis são o caminho para evitar os possíveis efeitos adversos das pílulas anticoncepcionais. Isso inclui praticar atividade física, ter uma alimentação equilibrada e, principalmente, não fumar. De acordo com o Ministério da Saúde, todas as complicações por anticoncepcionais acontecem com maior frequência em fumantes de qualquer faixa-etária. Se a trombose aparecer, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular adverte: “Ao qualquer sinal de alteração nas veias das pernas, procure um médico – aqui vale a máxima de que quanto antes o tratamento começar, melhor”. Divulgação


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