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Época de bichos peçonhentos No verão aumenta o número desses animais que trazem consequências sérias para quem é picado, principalmente os escorpiões 22 SAÚDE O Brasil é dono de vasta diversidade biológica. De acordo com estudo do Departamento de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o país abriga 1,8 milhão de espécies. Alguns desses bichos são amáveis e gentis, outros, apesar de sua importante função dentro do ecossistema, são perigosos para o ser humano e vivem tanto na zona rural quanto na urbana. É o caso dos animais peçonhentos, que se proliferam no verão. “Os animais peçonhentos fazem parte de um grupo que, além de produzir o próprio veneno, possui na estrutura corporal um aparato especializado para injetar toxina em sua presa ou predador”, explica o biólogo Giuseppe Puorto, diretor do Museu Biológico do Instituto Butantan. “No caso das serpentes peçonhentas, esse aparato são seus dentes longos, afiados e chanfrados. Os escorpiões, por sua vez, têm esse aparelho no último seguimento da cauda”, exemplifica. São considerados animais peçonhentos algumas espécies de serpentes, escorpiões, aranhas, mariposas e suas larvas, abelhas, formigas, vespas, besouros, lacraias, peixes, águas-vivas e caravelas, entre outros. “Crianças são mais sensíveis à toxidade do veneno pela baixa massa corpórea, e os idosos pela fragilidade física. No entanto, o risco aos acidentes e a ação do veneno é igual para todos e por isso demanda cuidados preventivos”, orienta Puorto, e sublinha: “Na natureza, alguns animais que se alimentam de animais peçonhentos são imunes ao seu veneno, mas no caso do ser humano essa imunidade não existe”. O verão, período que vai de dezembro ao fim de março, é a época do ano em que mais registra-se casos provocados por animais peçonhentos. Segundo o Ministério da Saúde, 40% dos acidentes acontecem nesse período de muito calor e chuvas. “O verão favorece o metabolismo desses animais, coincide também com o nascimento de seus filhotes e proporciona maior oferta de alimentos para as espécies”, explica o diretor do Museu Biológico do Instituto Butantan. Em 2016 foram notificados 171.705 acidentes por animais peçonhentos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), dos quais 3.645 evoluíram para óbito. O escorpionismo foi o que apresentou maior aumento de casos no período: 90.119 notificações, seguido pelos acidentes com aranhas. Janeiro foi o mês com mais casos registrados. “O ambiente urbano favorece o aparecimento dos escorpiões. Nas cidades eles encontram abrigo e comida em abundância. Os escorpiões são predadores naturais das baratas que, no verão, brotam do chão”, pontua Puorto. Sinais e sintomas iniciais pós-acidente por animais peçonhentos podem variar conforme o bicho responsável pela picada. Mas em geral são dor, vermelhidão ou hematoma, inchaço e formação de bolhas no local. Podem surgir sintomas mais graves como febre, hemorragias, queda da pressão arterial, necrose, insuficiência renal e falta de ar. O socorro imediato e correto é capaz de evitar a piora do quadro e até um mal súbito. Como medidas de primeiros socorros, o biólogo do Instituto Butantan recomenda: “Primeiro, o acompanhante e a vítima devem procurar manter a calma. Segundo, deve-se higienizar o local atingido, lavando-o com água corrente e sabão neutro. Em terceiro lugar, remover a vítima para o serviço médico mais próximo. Durante todo esse processo, é indicado à vítima manter o membro atingido elevado. Isso ajuda a diminuir o inchaço”. Puorto também orienta que não se deve fazer torniquete, pois essa medida impede a circulação do sangue e piora a situação. O especialista alerta para evitar a sucção do veneno e para não ingerir bebidas alcoólicas nem cortar ou queimar o local da ferida. A aplicação de folhas sobre o local também traz o risco de infecção. Não há exames laboratoriais específicos para o diagnóstico. Tampouco tentar descrever o tipo de animal que atacou a vítima e características. “A pessoa diz que foi picada por uma cobra cascavel e, muitas das vezes, não era uma cascavel. É o exame clínico, diante dos sintomas e sinais do paciente, que aponta para o médico como proceder e qual o soro a ser utilizado”, explica o especialista. O tratamento é feito com o soro específico para cada tipo de envenenamento. A aplicação é direto na veia do paciente. Medidas para alívio da dor podem ser tomadas enquanto o antídoto age. Essas ações, quando administradas de forma adequada e rápida, geram bom prognóstico. Cuidados essenciais Desde 1986, o Ministério da Saúde adquire toda a produção de antivenenos dos quatro produtores nacionais – Instituto Butantan, Instituto Vital Brazil, Fundação Ezequiel Dias e Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos. Mensalmente, o Ministério distribui as cotas de antivenenos aos Estados, levando em conta critérios epidemiológicos que são definidos com base nas notificações de acidentes por animais peçonhentos no Sinan. Os acidentes com animais peçonhentos são classificados pela Organização Mundial de Saúde como doenças tropicais negligenciadas. Segundo o especialista Giuseppe Puorto, a grande maioria desses acidentes pode ser evitada. “Temos que buscar uma convivência harmoniosa com esses animais, pois eles estão aí. Por isso, a atitude preventiva mais simples e eficaz é olhar onde pisa”, diz. Quem vai passar as férias de verão em alguma casa que permaneceu fechada por muito tempo, por exemplo, deve ter cuidado e fazer uma vistoria antes de se instalar no local. Manter limpos os locais próximos das residências, jardins, quintais, paióis e celeiros, não acumular lixos ou entulhos e vedar frestas de portas e janelas também são ações que impedem os animais peçonhentos de se instalarem nos ambientes. “Os animais só atacam quando se sentem ameaçados ou porque a pessoa se aproximou demais ou porque foi provocado”, adverte. A lista de hospitais que realizam atendimento com soroterapia por Estado pode ser consultada no site do Ministério da Saúde (goo.gl/DnFGkR).


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