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José 14 ENTREVISTA A luta pela igualdade racial é determinante na vida do advogado José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, da qual é fundador. A instituição, cujas atividades tiveram início na década de 1990 e conta hoje com mais de 1.200 alunos, é exemplo de oportunidade para a formação do negro no ensino superior, e bandeira pela igualdade e miscigenação racial. “Muito antes de se discutir a questão das cotas no país, já dávamos condições para o negro”, diz. A batalha de Vicente, que começou a trabalhar com sete anos, vai além das salas de aula: ele se tornou um obstinado na defesa da população negra. “Dê oportunidade para os negros mostrarem suas qualidades e essa república inacabada será uma grande potência.” Após 130 anos da promulgação da Lei Áurea, a visão que se tem é de uma abolição inacabada. Por que essa situação de desigualdade persiste? Porque vamos estendendo e repetindo esse erro. Começa pela própria escravidão que deveria ser inconcebível para um país do novo mundo, que estava nascendo sobre pensamentos e estruturas filosóficas e jurídicas do novo homem, estruturado em um sentimento religioso católico, difundindo a ideia de que todos eram filhos de Deus e, por conta disso, todos deveriam ser respeitados e terem a sua dignidade e a sua liberdade garantidas. Tratava-se, no entanto, de uma estrutura que conseguiu fazer vistas grossas e instituir esse regime de escravidão que perdurou por quase 350 anos. Foi uma trajetória que, seguramente, consolidou o que já havia sido cristalizado: uma série de posturas e atitudes em cima daquela realidade, do opressor e do oprimido, do senhor e do servo. A tão sonhada igualdade não acontece porque o sentimento religioso, a ideologia política, o pensamento cultural e o pensamento filosófico não imprimiram a autonomia necessária; passaram a se constituir numa abstração. Também são subjugados pelo poder dos mais fortes, pelos grupos de interesse. Diante de tudo isso, a gente manteve a escravidão. Até se inspirando no Século das Luzes (XVIII), com o movimento iluminista que deu origem à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, o Brasil não deu conta de valorizar o negro. De que forma a OAB SP e a Zumbi dos Palmares estão trabalhando para combater as desigualdades? Estamos desenvolvendo um projeto nacional de grande porte para alertar a sociedade sobre a importância da diversidade racial. Assim, poderemos viabilizar um discurso que estabeleça essa diversidade como um bem, um ganho para todos. Também trabalhamos em conjunto no sentido de sensibilizar as representações corporativas e, principalmente, os grandes escritórios para que eles ajudem a retirar os obstáculos existentes para o acesso do negro. O dilema nessa questão é que os advogados negros estão se formando e não conseguem a inclusão no ambiente da advocacia, principalmente nos grandes e médios escritórios. Então, a OAB SP e a Zumbi juntaram-se na iniciativa pela igualdade, para eliminar os entraves que hoje não permitem que esse ingresso se dê de maneira uniforme. José Luís da Conceição


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