Medo de engordar A preocupação com a forma do corpo 22 SAÚDE Transtornos alimentares constituem doenças caracterizadas pelo hábito irregular de comer e a preocupação excessiva com o peso ou forma corporal. Distúrbios podem incluir excessiva ingestão ou ingestão nenhuma de alimentos. As formas mais comuns relacionam- -se com a busca pela magreza: anorexia nervosa e bulimia nervosa. Essas doenças podem se desenvolver em qualquer fase da vida, mas geralmente aparecem durante a adolescência ou no início da idade adulta. “A anorexia é o transtorno mais precoce, o pico ocorre aos 16 anos. A bulimia é um pouco mais tardia, com pico aos 20 anos. Oitenta e cinco por cento dos casos de transtornos alimentares acontecem entre 12 e 20 anos”, explica Eduardo Aratangy, médico supervisor do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria da USP (Ambulim). Apesar de a maioria dos pacientes com transtornos alimentares ser de adolescentes, adultos não estão imunes. A parte encorajadora para esse grupo, no entanto, é que por serem maduros tendem a ter um tempo de recuperação menos conturbado do que os mais jovens, já que supostamente têm a maturidade necessária para reconhecer que precisam de ajuda. “Os transtornos coincidem justamente com o período de transição, onde o corpo passará de sua forma infantil para uma forma adulta. Essa transformação corporal é bastante acentuada nas meninas, o que pode explicar a recorrência dos transtornos em mulheres, já que a ideia de sucesso e de beleza para o feminino ainda está vinculada ao corpo”, aponta Tatiana Moya, especialista em psiquiatria geral e psiquiatria da infância e da adolescência pela Associação Brasileira de Psiquiatria. “As jovens com transtornos alimentares, muitas vezes, são boas filhas e boas alunas, não raro as primeiras da classe. Querem aprovação. São perfeccionistas e tentam atingir a perfeição por meio da perda peso e da magreza”, descreve Tatiana. Ironicamente, a onda por comida saudável pode estar levando adultos a desenvolverem distúrbios alimentares, nesse caso a ortorexia, que se tem provocado sérios distúrbios alimentares em adolescentes e em adultos encaixam nos chamados transtornos alimentares não-especificados. Enquanto a escolha inteligente de alimentos e do tamanho das porções e a prática de exercício físico são plenamente recomendáveis, pessoas propensas a distúrbios alimentares podem passar dos limites, validando uma restrição exagerada. Outro transtorno não-especificado é a ruminação, caracterizada quando o individuo mastiga, mastiga, mastiga e cospe a comida, pois o ato de mastigar lhe provoca saciedade. O tratamento dos distúrbios deve ser coordenado por médico psiquiatra, mas sua abordagem completa é muldisciplinar. Consultas psicológicas individuais e familiares são recomendadas. Em casos de anorexia, as medicações disponíveis atualmente têm pouquíssima eficácia. Já para a bulimia, é recomendado o tratamento medicamentoso. Outra abordagem curativa dos transtornos é a orientação nutricional, muito importante para a manutenção de uma dieta adequada e equilibrada. Na anorexia, a recuperação do peso deve ocorrer de forma gradual, para não sobrecarregar um organismo acostumado a quase nada ingerir. É preciso deixar claro, porém, que não se conhecem métodos eficazes para prevenir essas patologias. “Pacientes bulímicos costumam buscar ajuda voluntariamente. Eles entendem que seu comportamento não é natural. Já os anoréxicos são mais resistentes. Nessas situações, a família precisa ter pulso firme e, se necessário, trazê-los a força”, ressalta Aratangy. Quanto mais cedo iniciado o tratamento, principalmente para a anorexia, melhor o prognóstico. Os transtornos alimentares constituem distúrbios mentais e causa de letalidade. Estima-se que de 5% a 20% das pessoas anoréxicas morram por causa da doença. É importante ficar atento aos detalhes, vez que sinais e sintomas dos transtornos alimentares relacionados à magreza podem passar despercebidos, principalmente pela negação do portador a assumir o problema. ANOREXIA Pessoas com anorexia nervosa têm perda exagerada de peso em um curto período de tempo sem nenhuma causa clínica aparente. Recusam-se a se alimentar, não por perda de apetite, mas por pavor de engordar. Além disso, têm uma percepção distorcida da própria imagem corporal (dismorfia): veem-se maiores do que realmente são. Para o diagnóstico, é fundamental a avaliação do índice de massa corporal (divisão do peso da pessoa em quilogramas pelo quadrado da sua altura em metros). Além dos sinais já mencionados, os pacientes anoréxicos apresentam valores de IMC abaixo de 17,5, ou seja, um quadro de desnutrição. A doença ainda costuma provocar problemas psiquiátricos associados, como depressão, síndrome do pânico e comportamentos obsessivo-compulsivos. Quadros de anorexia favorecem falência cardíaca, insuficiência renal e hepática, arritmia, parada cardíaca, infecções, além de tumores de esôfago e intestino, perda dos dentes, desvitaminose (baixa absorção de vitaminas) e fecaloma. BULIMIA Os bulímicos comem compulsivamente grandes quantidades de alimentos num curto espaço de tempo sem aumento proporcional de peso. É comum o portador desse transtorno refugiar-se no banheiro após refeições copiosas para induzirem o vômito. Outros métodos compensatórios para reparar o consumo de alimentos é o uso abusivo de laxantes e diuréticos, jejum prologado e uso de drogas. Trata-se de distúrbio vinculado ao medo de engordar, que tem como consequência a perda de controle da ingestão alimentar. O diagnóstico de bulimia requer que os episódios de compulsão e compensação tenham uma frequência mínima de duas vezes por semana, por pelo menos três meses seguidos. Pacientes com bulimia não apresentam distorção de imagem corporal e têm peso considerado normal ou muito próximo do normal. Os recursos de que os bulímicos se valem para não engordar provocam complicações no organismo, como destruição do esmalte dos dentes, inflamação na garganta, sangramentos, problemas gastrintestinais, arritmias cardíacas etc. Divulgação
Jornal438_web
To see the actual publication please follow the link above