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Amigdalite A infecção das amígdalas é causada principalmente por inflamação de origem viral e atinge em maior número as crianças 22 SAÚDE Não é raro que as amígdalas, aquelas duas estruturas arredondadas e carnudas situadas no fundo da boca, uma de cada lado, infeccionem e inchem. É a tal da amigdalite. A série de desconfortos causados por esse quadro (febre, dor, perda de apetite, dificuldade para engolir e acúmulo de pus na região, em casos bacterianos), apesar de indicar que o corpo sofre de uma infecção, é também indício de que as amígdalas tentam cumprir o papel estratégico que lhes cabe: auxiliar na proteção do sistema imunológico. Por serem constituídas por tecido linfoide, que é rico em glóbulos brancos, atuam na produção de anticorpos. Elas incham para tentar impedir que a infecção que chegou pela cavidade oral alastre-se por todo o organismo, ao mesmo tempo que buscam criar imunidade em caso de ataque pelo mesmo vírus ou bactéria numa próxima vez. “As tonsilas (como também são chamadas as amígdalas) são imunologicamente ativas entre os quatro e os dez anos de idade, com um segundo pico entre 12 e 13 anos”, afirma o otorrinolaringologista Andy Vicente, do Hospital Cema, especializado em olhos, ouvidos, nariz e garganta. “As crianças entre cinco e sete anos são as mais propensas ao desenvolvimento de amigdalites”, completa. Ressalve-se que, apesar dos pequenos formarem o grupo de maior risco para esse quadro, os adultos não escapam. Metade dos casos de amigdalites tem origem viral (os principais agentes são o vírus da gripe, o Influenza, e o vírus do resfriado, o rinovírus). Os agentes infecciosos costumam ser transmitidos de uma pessoa para outra por tosse, espirro ou contato com mãos e objetos contaminados por secreções. Cerca de 20% têm causa bacteriana (a infecção acontece pela bactéria estreptococo tipo A). Os 30% restantes, que podem predispor o indivíduo a desenvolver uma amigdalite, acontecem por fatores não infecciosos como alergias, refluxo gastroesofágico, exposição à fumaça de cigarro, ingestão de álcool, ressecamento da mucosa, mudança bruscas de temperatura e baixa umidade do ar, uso excessivo da voz e queda na imunidade. Apesar de ser um problema corriqueiro, esse quadro não pode prescindir de um bom diagnóstico e de um tratamento adequado. A ausência de resposta resulta em evolução do quadro para abscesso periamigdaliano (quando a infecção se espalha por trás das amígdalas), infecção do espaço retrofaríngeo (espaço que se estende da base do crânio até o nível da primeira ou segunda vértebras torácicas), escarlatina e febre reumática. O diagnóstico da amigdalite é clínico. O otorrinolaringologista do Cema reitera que este diagnóstico deve ser criterioso, para descartar outras doenças que também podem provocar inflamação das tonsilas, como as faringites estreptocócica e não estreptocócica (infecção de garganta). Para essa doença há métodos específicos de diagnóstico, com um incômodo, observa Vicente: “O resultado do exame pode demorar até 48 horas, o que torna difícil para o médico convencer os pais ou o paciente a aguardar o resultado para dar início ao tratamento”. A cautela tem justificativa. É que caso seja necessária a administração de antibióticos, fazê-lo de forma indiscriminada pode tornar a bactéria resistente ao remédio. Com o diagnóstico fechado, o médico começa a fase terapêutica. O tratamento das infecções virais consiste em terapias de suporte com anti-inflamatórios, analgésicos e antitérmicos, para aliviar dor, febre e outros sintomas. Se a doença for causada por bactéria, entram em cena antibióticos, em geral ao longo de dez dias. Outra opção de tratamento é a de cortar o mal pela raiz, ou seja, retirando cirurgicamente as amígdalas. Até a década de 70, a ciência sabia pouco sobre a utilidade das amígdalas para o corpo. Por isso, cirurgias para retirá- -las eram muito comuns. Mas, segundo o otorrinolaringologista do Hospital Cema Andy Vicente as indicações para a cirurgia que existiam no passado já deixaram de valer hoje e contemplam critérios bem definidos. “As indicações usuais hoje contemplam frequência de sete ou mais episódios bacterianos em um ano ou de cinco em dois anos ou diante de abscesso periamigdaliano”, explica o especialista. A intervenção também pode ser recomendada para os casos de apneia do sono, ronco primário, síndrome da resistência de vias aéreas superiores, disfagias, alterações de fala com crescimento orofacial anormal ou com halitose (mau hálito). No entanto, permanece a questão: se as amígdalas são parte do sistema de defesa, não farão falta quando retiradas? A resposta é não. É que as tonsilas são apenas uma dentre muitas estruturas que protegem as vias aéreas superiores no nosso corpo. Mas precauções são necessárias, especialmente entre os pequenos. “Em pacientes submetidos à amigdalectomia abaixo da faixa etária de quatro a dez anos é importante intensificar os hábitos simples de higiene pessoal, como lavar as mãos ou usar álcool gel, não compartilhar talheres, copos, toalhas e objetos pessoais”, destaca Vicente. A amigdalectomia é uma cirurgia relativamente rápida, dura em média uma hora. Não há necessidade de incisões na pele pelo lado exterior – o cirurgião retira as amígdalas pela boca. São necessárias anestesia geral e internação. Já o pós-operatório da amigdalectomia é bastante incômodo para o paciente, além de requerer vários cuidados. O paciente poderá apresentar dor para engolir, alimentar- -se, falar. Por isso tudo, analgésicos são indispensáveis. “A alimentação deve ser líquida e fria, sendo ajustada progressivamente conforme a tolerância do paciente”, explica Vicente. Nesse período de recuperação, que costuma demorar três semanas, o sorvete é um grande aliado na sensação de alívio. Divulgação


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