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22 SAÚDE O retorno das doenças “quase” erradicadas A queda na cobertura de imunização das crianças tem aberto as portas para o reaparecimento de sarampo, poliomielite, difteria e rubéola Uma série de doenças altamente contagiosas, que até então se imaginavam definitivamente erradicadas no Brasil, como sarampo, poliomielite, difteria e rubéola, e que podem deixar sequelas graves ou até levar à morte, estão voltando. Desde 2016 não se registrava, por exemplo, um caso de sarampo no Brasil, mas de janeiro a maio deste ano quase um mil casos e três mortes foram confirmados no Amazonas e em Roraima. Em junho, o Ministério da Saúde informou haver risco de retorno da poliomielite em pelo menos 312 municípios, onde o índice de imunização da população é baixo. A pólio foi erradicada em 1994, depois de décadas assolando o país. Os alertas evidenciam problemas no nosso programa de vacinação em massa, até então tido como referência mundial. O atual calendário vacinal brasileiro, que prevê imunização da criança de forma progressiva, para que não haja sobrecarga, vem ano a ano registrando quedas na cobertura. A vacina Tetra Viral, que previne contra o sarampo, a caxumba, a rubéola e a varicela, apresentou seu menor índice de cobertura em 2017: 70,69%. Em seguida veio a vacina do Rotavírus Humano, com 20% abaixo da meta. Já o índice de cobertura contra a poliomielite ficou em 77%. A recomendação internacional para o controle das doenças é de que pelo menos 95% das crianças estejam vacinadas. A baixa cobertura vacinal não é uma exclusividade brasileira. Outros países também têm sofrido com ela. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que ao menos 20 milhões de crianças ainda precisam ser vacinadas contra difteria, tétano e coqueluche, e que outras 45 milhões ainda necessitam da segunda dose contra o sarampo. Muitas cidades grandes de países desenvolvidos têm sofrido com doenças endêmicas – ou mesmo epidêmicas – que podem ser prevenidas. Há quase um ano, a OMS emitiu um alerta quanto ao risco de transmissão de sarampo nos Estados Unidos e em países da Europa. A Venezuela, nossa vizinha de fronteira, tem registrado casos de poliomielite e de difteria nos últimos meses. Um fator que ajuda a explicar a baixa imunização da população mundial é a proliferação de grupos contrários à vacinação, que alegam – sem base científica –, que as vacinas causam efeitos colaterais e, por isso, são prejudiciais à saúde. Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunizações da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), fala sobre a segurança das vacinas. “É raro uma vacina causar reações alérgicas. Isso só acontece em indivíduos predispostos, isto é, pacientes alérgicos a componentes dela, como ovos, proteína do leite de vaca e outros”, explica a alergista. A complexidade do problema aumenta porque vivemos em um mundo com cada vez mais fluxo migratório, e é, geralmente, o viajante ou imigrante quem leva doenças a locais onde elas nunca existiram ou já tinham deixado de existir. Foi assim que o vírus da zika começou a circular no Brasil. Um estudo publicado na revista científica “Science” concluiu que o vírus desembarcou em 2013 por aqui, quando o país sediava a Copa das Confederações. Por essa razão, viajantes são aconselhados a consultar um médico pelo menos 30 dias antes da partida, a fim de dar tempo suficiente para que os esquemas de imunização possam ser concluídos. “Mesmo que a viagem seja rápida, e dentro do Brasil, ainda se faz oportuna uma consulta. Há tempo para fornecer conselhos de precaução de doenças e atualizar o paciente sobre a situação epidemiológica do local de destino. O risco de contrair uma doença em pouco tempo de estadia é menor, mas existe”, afirma a infectologista Karina Miyaji do Ambulatório do Viajante do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. As vacinas contra sarampo, poliomielite, difteria, rubéola e outras doenças podem ser recebidas gratuitamente nos postos de saúde, bastando apresentar a Carteira de Vacinação, que é fornecida pela maternidade logo no nascimento do bebê ou retirada nos próprios postos. Quem quiser mais conforto, pode vacinar a si e aos filhos em clínicas particulares, desde que esteja disposto a pagar por isso. Adultos que não saibam se já foram ou não vacinados, por não terem mais a Carteira de Vacinação, por exemplo, podem se dirigir a uma unidade de saúde e se imunizar, sem nenhum problema. “Se não há comprovação de vacinação prévia, há necessidade de se vacinar. Não há risco para a saúde em receber a vacina novamente”, informa Ana Karolina. Divulgação Sarampo É transmitido por secreções das vias respiratórias, por gotículas eliminadas pelo espirro ou pela tosse de alguém. Trata-se de uma doença potencialmente grave. Em gestantes pode provocar aborto ou parto prematuro. Manchas avermelhadas na pele são as principais características. Elas começam no rosto e se espalham pelo corpo até chegarem aos pés. Também são sintomas recorrentes: febre, tosse, mal-estar, conjuntivite, coriza, perda do apetite e manchas brancas na parte interna das bochechas. Casos de otite, pneumonia e encefalite são registrados em estágios avançados. Poliomielite Infecta crianças e adultos por meio do contato direto com as fezes ou com secreções expelidas pela boca de infectados. Pode ser assintomática ou se manifestar de acordo com a gravidade e a sensibilidade de cada um. Também pode ou não provocar paralisia. Nas formas não paralíticas, os sinais são febre, mal-estar, dor de cabeça, de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, constipação, espasmos, rigidez na nuca e meningite. Na forma paralítica, quando a infecção atinge os neurônios motores, instala-se também a flacidez muscular que afeta, em regra, um dos membros inferiores. Difteria É uma doença respiratória que atinge amídalas, faringe, laringe, nariz e, em alguns casos, as mucosas e a pele. É propagada pelo ar, por tosse ou espirro, ou pela saliva, em beijos ou bebidas compartilhadas. Essa enfermidade é mais prevalente na infância e em adultos não vacinados. O principal sintoma é o aparecimento de placas acinzentadas e firmes nas amídalas e órgãos adjacentes, além de mal-estar, dor de garganta, febre, corrimento nasal, gânglios linfáticos inflamados e manchas avermelhadas na pele. Em casos avançados, pode haver o fechamento da glote e provocar obstrução das vias aéreas, causando sérias complicações. Rubéola Provoca pequenas lesões avermelhadas, parecidas com as do sarampo, e que também começam na face e se espalham pelo corpo. Trata-se de uma infecção benigna na infância, mas extremamente perigosa durante a gravidez, porque a transmissão vertical do vírus pode provocar má formação congênita ou morte do feto. O contágio ocorre pelas vias respiratórias com a aspiração de gotículas de saliva ou secreção nasal. Os sintomas são parecidos com os da gripe: dor de cabeça, dores no corpo, coriza e febre. Pode acontecer ainda o aparecimento de ínguas e de manchas avermelhadas na pele.


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