ENTREVISTA
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A desembargadora Rilma Aparecida Hemetério ingressou
na magistrada do Trabalho há quase 38 anos. Especialista
em Direito do Trabalho e Previdência Social,
formada na turma de 1976 do Largo São Francisco e
com pós-graduação pela Universidade di Roma, ela é
a primeira mulher negra a presidir o Tribunal Regional
do Trabalho da 2ª Região (TRT-2), dirigindo a maior
Justiça trabalhista do país, com 500 juízes no primeiro
grau e 90 desembargadores. “Uma boa educação pública
suficiente para colocar os negros em condições
de concorrer em pé de igualdade com os demais” é
o ponto que ela defende para que uma parcela maior
da população negra consiga construir carreiras profissionais
tão bem-sucedidas como a dela. Defensora
da Justiça do Trabalho, a desembargadora nascida em
Caxambu (MG) critica a tese de que esse quadrante
especializado do Judiciário seria um obstáculo para a
geração de empregos e o desenvolvimento econômico:
“Eu não vejo lógica para chegar ao entendimento de
que a Justiça do Trabalho precisa acabar”.
No discurso de posse, a senhora destacou a importância
da luta da mulher por mais espaço na
magistratura. Por que essa presença já é uma
realidade no TRT-2?
A inserção feminina na Justiça do Trabalho da 2ª Região,
em todos os níveis de carreira, chega a mais de
50%, inclusive em cargos de chefia. Agora começamos
a nos preocupar porque daqui a pouco vamos ter de
criar cotas para homens (risos). Isso se deve, acredito,
ao próprio objeto do nosso trabalho, que é um
Direito moderno, recente e atrativo para as mulheres
que pela essência são trabalhadoras e batalhadoras.
Embora a primeira mulher, pelo que me consta, tenha
chegado ao Tribunal na década de 90, em menos de
trinta anos formamos um quadro com volume maior
de mulheres. A origem disso foi o ingresso da primeira
mulher na magistratura trabalhista, na primeira
instância, na década de 60, quando surgia um mundo
novo com outra visão sobre o papel da mulher. A
Justiça do Trabalho não demarcava fronteiras, não
colocava impedimentos para o exercício da função e
isso incentivou as mulheres.
Sobre a questão racial, como homens e mulheres
negros podem abrir caminho para construir carreiras
profissionais bem-sucedidas?
O caminho é árduo e longo, temos muitíssimo a
percorrer. No Tribunal, com 90 cargos de desembargadores,
só temos um representante de etnia
negra: eu. Somos 55% da população brasileira,
onde estão os meus iguais? No desenrolar da minha
carreira (Largo São Francisco, Ministério Público e
magistratura), sempre me deparei com essa situação.
José Luís da Conceição
Rilma Aparecida