“Ter 30% de
mulheres
nas chapas
diretivas, a
partir de 2021, é
um dos grandes
avanços da
OAB, que
colabora
muito para o
reconhecimento
da igualdade”
advogada e diretora da nossa OAB na gestão passada, capacitada para o
honroso cargo. O que em nada desmerece a diretoria vitoriosa, composta
de pessoas importantes, em especial o atual presidente, Márcio Roberto
de Castilho Leme, que vem se esmerando em significativas realizações,
tendo duas diretoras mulheres: Juliana Mazzei e Giovanna Maldonado.
Sabemos que temos mulheres perfeitas para assumirem as mais elevadas
presidências, até mesmo a da OAB Federal, e, se eu fosse alguma
delas, já estaria fazendo propaganda de meus feitos, mesmo iniciando
a tarefa subliminarmente. Confio que o segredo é iniciar a autopropaganda.
Não vejo vaidade nisso, mas sim um desejo sagrado de maiores
realizações. E é inegável que a mulher, com o instinto materno que a
distingue, tem uma visão mais nítida e distanciada do que os homens.
– Comandou a OAB em Sorocaba e depois foi a primeira mulher a
dirigir a OAB recém-criada em Votorantim. Quais os desafios enfrentados
e os momentos mais marcantes nesse processo?
– Os desafios são sempre os mesmos: a agressividade normal ou
perversa dos concorrentes. Mas, quando venci a eleição, os descontentes
ficaram grandes amigos, e o são até o presente. Quando eu era
presidente, Votorantim fazia parte da 24ª Subseção da OAB SP, bem
como outras cidades pequenas ao redor. Dependentes de Sorocaba,
os colegas de Votorantim almejavam o desenlace, e como conheciam e
aprovavam o meu trabalho, não foi difícil a vitória. Assim, acabei sendo
também a primeira presidente da 188ª Subseção em Votorantim. As
realizações dessa gestão foram tão significativas que todos me pediam
nova candidatura, mas considerei que Votorantim merecia um presidente
votorantinense, e assim foi. Tenho a imensa felicidade de até o presente
ter o imenso carinho desses queridos colegas.
– Na sua história fora da carreira na advocacia teve participação
em movimentos das mulheres em busca de igualdade de gênero?
Caso não, por que não se envolveu com esse tema?
– Não, pois naquele tempo ninguém falava nisso, não mesmo. Não me
lembro de nenhuma advogada que demonstrasse essa condição. Mas se
essa questão fosse aflorada, como é hoje, e se necessário, sem dúvida
estaríamos batalhando até mesmo no sentido da proteção.
– Um ponto curioso nas matérias jornalísticas da época de sua eleição,
é mencionarem que a chapa composta só por mulheres “não
se tratava de feminismo”. Havia oposição ao termo “feminismo” e
isso atrapalharia as candidatas mulheres?
– Como contei, quando, pela repercussão danosa da época, me dei
conta que não deveria ter feito uma chapa só de mulheres, já era tarde.
Modificar seria demonstrar fraqueza, por isso decidi mantê-la. De forma
alguma houve “feminismo”, e se houve não percebi! Felizmente, ganhamos
a eleição e deu tudo certo. Quero dizer que minha gestão não seria
a mesma sem o apoio das diretoras Maria Helena do Amaral Camargo,
Sheila Silva Monteiro e Yone Petrere Simão. A essas notáveis colegas
e verdadeiras amigas, a minha eterna gratidão!
Em que momento ser mulher foi positivo e quando teve de elevar
a voz para se fazer ouvir?
– Tudo demonstrou ser positivo quando começaram as realizações,
inimagináveis até então. A diretoria estadual, então presidida por José
Eduardo Loureiro, nos prestigiou em tudo. Pouco antes da minha posse
solicitei à Secional novos móveis e máquinas etc. para a nossa Sala
da OAB, pois os que haviam já estavam velhos, muitos quebrados, e
ele concordou de imediato. Assim, no fim de semana que antecedeu o
primeiro dia da nossa gestão, o juiz Klinger Muarrek, então diretor do
Jornal da Advocacia – Ano XLIV – nº 447
fórum, autorizou a entrada de novos móveis, novas cortinas e pintura
das salas, e assim foi feito. Na segunda-feira, quando os advogados
chegavam, ficavam perplexos, verdadeiramente encantados. A partir daí
tudo foi positivo! Os momentos de elevar a voz foram apenas quando
era necessário enfrentar as autoridades para defender os colegas por
terem sido ofendidos. Não sei precisar se o positivo foi antes ou depois.
Mas afirmo que depois foi tudo maravilhoso.
– Quais os conselhos que daria hoje às mulheres que entram na
política de Ordem, buscando representatividade na classe e no
âmbito do exercício da advocacia?
– Considerando minha experiência, afirmo que meu conselho é promover
realizações contundentes. Mesmo na excelência, sempre há o que
melhorar, fazer a diferença. Mas tudo isso envolvido no mais puro amor
pelo que faz. Com o verdadeiro amor inexiste vaidade, e as vitórias são
mera consequência.
– Durante sua gestão houve um fato que marcou sua trajetória. Um
jornal local atribuiu-lhe suposta falsificação de documentos na venda
de automóvel. O jornal foi processado e teve de se retratar. Neste
episódio, o fato de ser mulher contribuiu para o posicionamento
mais agressivo da publicação?
Sem dúvida nenhuma! Esse jornal, de prestígio na cidade e região, faz
parte de uma fundação maçônica, que envidou absolutamente todos
os seus recursos para a vitória da chapa concorrente. A derrota lhes foi
mortal! A falsa e perversa notícia foi a maior dor de minha existência,
só superada pela perda de meu filho. A injustiça me deixava aturdida,
e doía demais o constrangimento com os colegas e autoridades nas
idas ao fórum, bem como em meu dia a dia. A diretoria do jornal era
perversa, mas o tempo passa e põe tudo no lugar. Depois de um curto
tempo, deparei-me com o diretor-presidente, e ele constrangido veio
me pedir perdão. Eu disse que não perdoava porque tem arrogância no
perdoar, mas que entendia que na ocasião ele fez o que sabia, e que
sua iniciativa o enaltecia. Doeu, mas fizemos as pazes. Hoje sou muito
amiga das diretorias que se sucedem, e há décadas todas me prestigiam
e continuam me prestigiando. Completando, não entendi essa agressividade
do jornal por ser mulher, mas, como citado, porque eu venci a
chapa que o jornal apoiava.
– Há avanços significativos para as mulheres na vida institucional,
como, no âmbito da Ordem, a obrigatoriedade de 30% de mulheres
nas chapas diretivas, a partir de 2021. Acha que essas práticas são
positivas?
– Esse é um dos grandes avanços da OAB, que colabora muito para o
reconhecimento da igualdade. Magnífica providência, que, sem dúvida,
incentiva a presença das mulheres na liderança da advocacia. Sem
preconceito aos homens, com seus inegáveis valores, reitero que o
instinto materno, como disse, faz toda a diferença. As mulheres que
lideram cargos na nossa OAB comprovam a assertiva.
– O que pensa do impedimento de ingresso nos quadros da OAB
em todo o país aos homens com condenação por violência contra
a mulher? Trata-se de um avanço, uma política afirmativa, ou não?
– Ideia notável, genial mesmo! Mas só acabaremos com essa violência
não apenas com as condenações de toda espécie, mas quando deixarmos
de criar homens como seres que não podem demonstrar amor, que
têm de ser fortes e agressivos. Felizmente, parece que existe uma nova
educação nesse sentido, e a passagem dos anos poderá extinguir esse
nefasto hábito de tempos memoriais.
Jornal da Advocacia I Março-2019 15
SÃO PAULO