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Afirmamos inúmeras vezes, inclusive neste espaço, que o coração da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo é o setor de Benefícios. Nem poderia ser diferente: socorrer os colegas em situação de penúria, notadamente aqueles impossibilitados de trabalhar devido a problemas de saúde, é a razão de existir da entidade. Também já escrevemos que essa tarefa jamais se realizaria sem o minucioso trabalho dos assistentes sociais que compõem os quadros da CAASP, muito menos sem a dedicação abnegada do corpo de relatores. Orgulha-nos assistir o colega carente, mas orgulha-nos muito mais vê-lo vencer, ultrapassar a barreira que o deixou por algum tempo derreado. A volta por cima torna a queda um simples interregno de aprendizado. A XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira mostrou à comunidade jurídica um caso exemplar de superação, persistência e fé, cujo protagonista é o advogado Marcelo Panico. O colega participou ativamente do maior evento corporativo da América Latina, do qual extraiu novos conhecimentos e no qual ampliou os muitos que já detém. Marcelo Panico é um advogado especial, não apenas pelo sucesso que alcançou na carreira, mas também por tê-lo alcançado mesmo portando deficiência visual. Cego desde 2003, quando tinha 33 anos, ele teve de reaprender a viver e, corajosamente, reiventar-se como advogado. O caso é insólito: certa noite, dormiu com a visão normal e, ao acordar, não enxergava nada. Foi diagnosticado com pseudoxantoma elástico, desordem genética que leva a uma hemorragia na retina e, consequentemente, à perda da visão. Trata-se de uma doença incurável e impossível de ser diagnosticada precocemente. A partir daquela manhã, Panico passou dias angustiantes, tendo o surgimento da doença coincidido com a notícia de que sua esposa estava grávida da filha. Em um depoimento ao Jornal do Advogado, em 2008, ele revelou: “Num primeiro momento, entrei em desespero e não pude curtir a gravidez da minha mulher. Porém, o nascimento da minha filha foi o que me deu forças para reagir. Eu tinha algumas reservas, mas elas foram se diluindo. Precisava comprar remédios caros. Houve um momento em que tive de sair da minha casa e voltar para a casa da minha mãe, porque não conseguia me sustentar. Havia parado de trabalhar e não tinha qualquer perspectiva”. A CAASP ajudou o advogado Marcelo Panico naquela hora, como mandam os preceitos assistenciais da entidade. Porém, o que cabe aqui ressaltar é a força que guarda o ser humano quando em busca de sua vocação. Com apoio da Fundação Dorina Nowill, antiga Fundação do Livro para Cegos, ele reaprendeu a se vestir, fazer a barba, ir ao banheiro, cozinhar e, principalmente, ler, utilizando um software de voz. Foi quando percebeu que podia voltar a trabalhar. Graças à Lei de Cotas para Deficientes, Marcelo Panico conseguiu recolocar- -se na advocacia, empregando-se no Departamento Jurídico da Mobitel S.A., hoje Vivo, onde juntava documentos, lia-os com o software de voz e montava processos. Sua eficiência valeu-lhe uma promoção a advogado da companhia. Depois, foi contratado para ser advogado da Nextel, em que permaneceu por vários anos e de onde certamente saltará para voos mais altos. Marcelo Panico é um vencedor, um ser humano que ultrapassou barreiras à primeira vista intransponíveis para continuar vivendo dignamente e exercendo a profissão que ama. Foi emocionante vê-lo circular com seu cão-guia pelos estandes e painéis da XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, engajando-se ao lado de 20 mil colegas nas causas que afligem a classe e o país. Marcelo Panico é um exemplo para o Brasil e para a advocacia. Na pessoa dele, a CAASP sente-se recompensada por exercer a atividade assistencial. UM ADVOGADO QUE NOS ENCHE DE ORGULHO “Marcelo Panico, um exemplo para o Brasil e para a advocacia, faz com que a CAASP sinta-se recompensada por exercer a atividade assistencial” PALAVRA DA DIRETORIA 24 Alexandre Ogusuku SECRETÁRIO-GERAL ADJUNTO Cristóvão Bernardo


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