Jornal da Advocacia – Ano XLIV – nº 449
Jornal da Advocacia I Maio-2019 11
SÃO PAULO
Advocacia deve f icar
atenta aos movimentos
tecnológicos
Em meio às transformações mercadológicas, o impacto da tecnologia no universo do
Direito é um tema que vem ganhando atenção e espaço para debate. Entre as trocas de
ideias que ocorrem paralelamente ao inevitável avanço do uso tecnológico no dia a dia
de qualquer profissão, inclusive no da advocacia, recente estudo do Centro de Ensino em
Pesquisa e Inovação, da FGV Direito SP, mapeou a realidade dos escritórios no Brasil.
O levantamento resultou em duas pesquisas: quantitativa e qualitativa. A primeira é uma
espécie de radiografia, que buscou mensurar se a classe está preparada para atuar com
base em tecnologias avançadas. A segunda, por sua vez, avalia as ações de quem classifica
como desbravadores, por já investirem em automação.
A pesquisa quantitativa, foco deste texto, entrevistou 403 escritórios de pequeno a grande
porte para averiguar se, e de que modo, a tecnologia é empregada. Foram ouvidas estruturas
com, no mínimo, três advogados ou advogadas na equipe, sendo que fatia de 70%
delas está na região Sudeste. De acordo com o levantamento, nove em cada dez escritórios
consideram importante o impacto do uso de softwares. No entanto, menos da metade
utiliza esse tipo de recurso para o auxílio das atividades jurídicas. Do total, 51% não faz
uso frente aos 44% que optam por esses recursos (ver gráfico). A pesquisa mostra, ainda,
que fatia menor – apenas 26% – não investe em softwares para geração automática de
documentos. São recursos de infraestrutura tecnológica avançada.
Marina Feferbaum, uma das coordenadoras do estudo, cita hipótese para avaliar os números.
“A maior parte das bancas é composta por escritórios de menor porte, que não negam
a importância da tecnologia e, tampouco, que seu uso facilita a atividade diária. Mas há o
custo, inclusive de aprendizagem”, comenta.
Na percepção dos entrevistados, o emprego de softwares auxiliares é visto como positivo
por trazer maior agilidade ao trabalho e à organização do escritório. Mas há ainda desconhecimento
em relação às diferenças entre tecnologias e, consequentemente, ao uso
de infraestruturas mais avançadas e o impacto disso à atividade – por exemplo, repensar
modelos de prestação de serviços. Segundo os pesquisadores, é necessária a atenção
da advocacia aos movimentos de mercado para antecipar-se, na medida do possível, às
mudanças que estão por vir de modo a preparar-se com a devida prevenção.
É importante esclarecer que a maior parte dos softwares utilizados atualmente pela amostra
se aplica, ainda, à gestão do dia a dia – em tarefas como auxiliar o controle de prazos,
organizar minutário, entre outros, cujo objetivo é maior sistematização. Há também ferramentas
destinadas a outros usos, como gestão financeira. Mas utilizar recursos de infraestrutura
tecnológica avançada – realidade mais comum verificada em bancas de maior porte
– é primeiro passo rumo à automação. Quer dizer estar na direção de empregar tecnologia
em tarefas jurídicas mais complexas: quando se desenham processos de automatização
de trabalhos repetitivos – atividade realizada pelas chamadas legaltechs ou lawtechs.
Gestão do conhecimento
Preparar o terreno para implementar tecnologias avançadas envolve apostar em gestão de
conhecimento. “É passo fundamental”, resume a pesquisadora. Segundo o levantamento,
trata-se de processo que, neste contexto, cuida de identificar e descrever organizadamente
as etapas envolvidas na execução de tarefas típicas da prestação de serviços jurídicos,
bem como organizar a aquisição e reutilização de informação.
Em suma, somente após identificar e especificar, detalhadamente, o que está envolvido
na execução de uma determinada tarefa, é que se pode pensar em automatizar etapas
dela. Desse modo, para quem pretende implementar execução automática de tarefas, ou
mesmo apenas algum auxílio computacional à execução, é clara a necessidade prévia da
gestão do conhecimento.
Este é um ponto de alerta identificado pela pesquisa, visto que é praxe que a gestão de
conhecimento esteja geralmente nas mãos de um sócio. “É importante que essas informações
estejam organizadas institucionalmente. De modo lógico e acessíveis, não apenas
na cabeça de alguém”, avalia Marina. O estudo aponta, ainda, grande variação de cargos
indicados pelos entrevistados para ocupar a função, incluindo a equipe administrativa
e até mesmo estagiário, o que sugere, diz o material, falta de clareza e, possivelmente,
subdimensionamento sobre a importância do tema.
Dê – aqui sua opinião sobre a matéria de capa
/em-pauta-os-limites-do-direito-do-trabalho-na-regulacao-de-conflitos