Heloísa
Santos Dini
Pioneirismo
Símbolo do empoderamento feminino, a sorocabana
Heloísa Santos Dini foi a primeira mulher a dirigir uma
Subseção da OAB no Brasil, em Sorocaba, tendo presidido
também a OAB de Votorantim. Porém, apesar de seu
pioneirismo, conta, o espaço conquistado por elas ainda
é ínfimo. “Sabemos que temos mulheres perfeitas para
assumirem as mais elevadas presidências, até mesmo
a da OAB Federal”, diz, para justificar que o segredo da
conquista está em primar pela excelência.
– Em 1984, os jornais noticiaram o fato de uma mulher – com chapa
formada apenas por mulheres – ter sido eleita para presidir uma
Subseção da OAB. O que motivou sua entrada na disputa?
– Inicialmente, devo dizer que sou a mais velha de seis irmãos, e, por
isso, precisei auxiliar minha mãe a criá-los, em especial os três últimos.
Isso foi muito bom, pois fiquei “programada” para ajudar o próximo, e
nisso me aprimorei. A bem da verdade, toda minha família é assim.
Desde o início de minha advocacia – lá se vão 45 anos! –, estava na
Sala da OAB do nosso fórum. Sempre queria melhorar alguma coisa,
até que a diretoria, já confiante em meu trabalho, permitia algumas
intervenções de minha parte. Também passei a fazer parte da diretoria
da Associação dos Advogados de Sorocaba, especialmente para a
realização de palestras. Nessa atividade, trouxe os mais cintilantes
luminares do nosso Direito, entre tantos Evandro Lins e Silva, Theotonio
Negrão, Washington de Barros Monteiro, Nascimento Franco, e outros
do mesmo altíssimo nível; até o ex-presidente Michel Temer, sendo
certo que o auditório nunca tinha acomodação para tantas pessoas
ligadas ao Direito, incluindo juízes, promotores e muitas autoridades.
Assim, passados alguns anos, ousei candidatar-me à presidência da
nossa 24ª Subseção da OAB SP, sendo vencedora. A luta pela presidência
foi aguerrida, e tem tanta história que merece um livro para ser
contada. Ter decidido por uma chapa só de mulheres foi impensado.
Com a censura de um grande número de colegas, considerei que não
deveria ter feito isso, mas também não poderia voltar atrás, por isso
transitei pela campanha muito preocupada. Os colegas homens que
nos apoiavam brincavam dizendo: “Vou votar nas mulheres porque elas
dão beijinhos”. Claro que tudo de forma respeitosa e amigável.
– A vitória foi apertada, por uma diferença de apenas três votos. A
senhora avalia que o fato de ser uma chapa composta por mulheres
para o comando da OAB Sorocaba tenha motivado essa disputa
tão acirrada? Que tipo de resistência enfrentou naquela época?
– Certamente padecemos com o preconceito. Sofri traições, ofensas
perversas e injustas, tudo muito doloroso, mas felizmente as cabeças
pensantes nos apoiavam. Os juízes e promotores, que acompanhavam
ao longo dos anos o meu trabalho silencioso, discreto e eficiente nas
diretorias anteriores, e também na Associação dos Advogados de
Sorocaba, foram grandes cabos eleitorais.
– Passados 35 anos, como analisa aquele momento, considerando
que ainda hoje é baixa a participação feminina na vida institucional
do Sistema OAB?
– Eu fico muito triste de ter sido, até o presente, a única mulher presidente
da 24ª Subseção da OAB SP. Esse foi o motivo de ter trabalhado
intensamente na campanha de Maria Cláudia Tognocchi, notável
Entrevista
14 Jornal da Advocacia I Março-2019
José Luís da Conceição